O efeito da Covid-19 para as pequenas e médias empresas (PMEs) globalmente sugere que a crise no mercado de trabalho poderá ser duradoura. Com a pandemia, mais de um quarto (26%) desses negócios que operava em janeiro fechou em maio. Entre eles, apenas 36% estimam que vão recontratar os mesmos trabalhadores ao reabrirem. No Brasil, essa taxa cai a 18%. Dentre as PMEs que seguiram em atividade, um terço fez demissões. Os dados estão em estudo realizado pelo Facebook, em parceria com o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Empresas de atividades focadas no consumidor foram as mais atingidas. Mais da metade das agências de viagens e 47% dos negócios de hospitalidade e eventos relataram ter fechado.
O coronavírus expôs ainda o efeito da disparidade de gênero nesse segmento. Os negócios liderados por mulheres se mostraram 7 pontos percentuais mais propensos a baixar as portas na pandemia.
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— A desigualdade de gênero permeia nossa vida cotidiana, e a crise desencadeada pela pandemia apenas reforça como as mulheres precisam trabalhar mais quando se trata de administrar um negócio, especialmente porque muitas vezes elas também são responsáveis por cuidar da casa e dos filhos. Toda iniciativa que ajude a equilibrar a desigualdade de gênero é bem-vinda — destaca Maren Lau, vice-presidente do Facebook na América Latina.
Ao todo foram ouvidos mais de 30 mil empreendedores com página empresarial ativa na rede social em mais de 50 países. O estudo “O futuro dos negócios”, ao qual Pense Grande teve acesso com exclusividade, terá atualizações mensais até dezembro.
Negócios com liderança feminina em desvantagem
Na América Latina, 40% das PMEs com gestão feminina tinham fechado em maio, ante 29% das lideradas por homens, uma diferença de 11 pontos percentuais. No Brasil, essa lacuna está acima da média para a região: 18 pontos percentuais. O país com maior disparidade nessa sentido é a Rússia, com 26p.p.
As empresas com mulheres à frente estão também mais presentes nos segmentos mais impactados pelas restrições de abertura. Mais de um quarto delas em áreas como beleza, bem-estar e exercícios físicos, ante uma fatia de 10% dos concorrentes masculinos.
Queda nas vendas e digitalização
Os desafios em geração de caixa e empregos vêm também da retração nas operações. Quase dois terços das empresas que seguiram abertas relataram queda nas vendas em maio sobre igual período de 2019. Desse grupo, 57% relataram que as vendas caíram em 50% ou mais.
Uma das saídas para compensar essas perdas foi a digitalização dos negócios. No Brasil, 47% das PMEs informaram que 25% ou mais de suas vendas vieram de canais digitais nos últimos meses.
— A mudança para o digital é irreversível. A pandemia mudou o comportamento do consumidor. E isso forçou as empresas grandes e pequenas a acelerar seus planos de transformação digital — diz a executiva do Facebook.
Para Rubens Massa, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV, é importante entender que a pandemia transformou o ambiente de negócios:
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— A Covid-19 foi uma catalisadora de transformações. Levou à contingência de recursos, a trabalhar de forma enxuta, incorporar tecnologia. E isso impactou o emprego. Já remodelou os negócios, que serão mais produtivos e inovadores.
Dificuldades e perspectivas
Apesar dos desafios, 74% dos negócios que estava fechados no fim de maio esperavam reabrir assim que as restrições locais fossem interrompidas. A retomada, contudo, se mostra incerta e muitas empresas vão demandar apoio para voltar a operar, diz o relatório.
Quase um quarto das PMEs disse que estava recebendo auxílio em razão da pandemia, 60% delas do governo, tanto em crédito quanto em benefícios. No Brasil, cerca de 30% dos negócios disseram que já estão recebendo algum tipo de assistência financeira, 75% em benefícios ou empréstimos vindos do poder público.
Entre as principais demandas das empresas para superar as dificuldades de caixa neste momento estão suplementação salarial (32%), diferimento de impostos (32%) e acesso a crédito (29%).
Fonte: “O Globo”