A sabedoria popular diz que se um cavalo selado passar perto de você, suba, porque pode ser que isso nunca mais aconteça. Todo cenário de mudanças tem janelas de oportunidades únicas. Quando são desperdiçadas, o que resta é lamentar.
O petróleo é uma commodity com preço flutuante, influenciado por questões geopolíticas. A estratégia da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e parceiros, como a Rússia, tem sido de controlar a oferta para manter o patamar de preços. Porém, o protagonismo recente dos Estados Unidos desde a exploração em escala do shale oil, capaz de compensar a queda de produção acordada entre os países, tem frustrado os planos da organização. Mesmo com a crise na Venezuela, que já foi um dos grandes produtores, a oferta tem se mantido alta, pressionando os preços para baixo. Com isso, há uma desvalorização das reservas e a inviabilização da extração em alguns poços que possuem maior custo de exploração.
Ao mesmo tempo, vivemos em um momento de notícias constantes sobre novos modelos para a matriz energética. Os impactos do uso de combustíveis fósseis têm motivado cada vez mais o desenvolvimento de tecnologias com baixa emissão de carbono. As alternativas incluem etanol, combustíveis sintéticos, biogás e ainda o gás natural, considerado um combustível não-renovável “mais limpo”, também utilizado como Gás Natural Veicular (GNV) e, mais recentemente, Gás Natural Liquefeito (GNL).
Cresce também o interesse pelos veículos elétricos, com melhoria das baterias e busca por maior eficiência energética nos modelos híbridos, desenvolvendo tecnologia para utilização de etanol no seu motor de combustão interna. A Volkswagen, por exemplo, informou que deixará de produzir carros com motor a combustão a partir de 2026. Já a Volvo anunciou que focará nos híbridos em um prazo de 2 anos, interrompendo a produção de veículos movidos exclusivamente a gasolina ou diesel.
Essas tendências podem reduzir o mercado para derivados de petróleo justamente no momento em que o setor energético brasileiro vive uma perspectiva de aumento na exploração e produção de óleo e gás, principalmente nos campos do pré-sal. As projeções indicam que o país pode ser um dos maiores exportadores de petróleo do mundo e até dobrar a produção de gás natural nos próximos dez anos.
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Sendo assim, não há dúvidas de que é acertada a estratégia de acelerar a produção e a comercialização de nossas reservas de petróleo, da mesma forma que os Estados Unidos estão fazendo. Precisamos extrair essa riqueza antes que as restrições ambientais e os avanços tecnológicos, capazes de tornar fontes alternativas mais competitivas, restrinjam a exploração de petróleo. Neste sentido, a opção anunciada pela nova gestão da Petrobras de concentrar seus recursos e investimentos na extração e comercialização do óleo do pré-sal é muito acertada.
A atividade de refino não deve ser prioridade da Petrobras e, portanto, é também louvável a sua posição de vender parte das refinarias existentes e buscar parcerias ou repassar os projetos de novas unidades. Para que a Petrobras consiga atrair investidores para o segmento de refino, será necessário, na condição de agente dominante, ser transparente e praticar preços de venda dos seus produtos alinhados com o mercado internacional.
A empresa também precisa operar suas refinarias com eficiência e nos pontos ótimos de rentabilidade, de forma a oferecer ativos produtivos e rentáveis aos potenciais investidores. O volume complementar necessário para atender à demanda pelos combustíveis deve ser ofertado por agentes privados que atuam na cadeia de suprimentos. Esses agentes têm interesse e capacidade para realizar os investimentos em infraestrutura necessários para suportar a movimentação até que o mercado de refino local seja capaz de atender à demanda, garantindo segurança e custos otimizados dos produtos importados.
Dessa forma: (i) a sociedade será beneficiada com segurança no abastecimento e preços menores em um mercado competitivo com diversos fornecedores; (ii) a Petrobras poderá operar as suas refinarias de forma rentável e segura, tornando-as atrativas para novos players; e (iii) os investimentos em infraestrutura logística poderão ser viabilizados por agentes privados. Não podemos perder essa oportunidade de gerar riqueza no setor de óleo e gás, sob pena de inviabilizar a exploração de grandes reservas e desperdiçar uma fonte de recursos capaz de ajudar na recuperação econômica que tanto buscamos.
Fonte: “Poder 360”, 30/04/2019