Ao afirmar que o Brasil precisa voltar a crescer acima de 3% ao ano, em bases sustentáveis, para recuperar a perspectiva positiva de nota de classificação de risco, a agência Moody´s, que reduziu o rating brasileiro para estável , tocou num ponto que vem provocando muita discussão entre os economistas brasileiros nos últimos anos: qual será o PIB potencial brasileiro?
O crescimento de 3% em média ao ano é também o necessário para que o país se mantenha dentro da previsão da Goldman Sachs de tornar-se uma das principais economias do mundo nos próximos 30 anos, acompanhando os países emergentes que fazem parte do Brics, acrônimo composto pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Após crescer 4,7%, em média, durante o período de 2004 a 2007 e se expandir em 5,2% em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, em 2009, caiu 0,3%.
Quando assumiu o ministério, em março de 2006, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava no auge de uma disputa com o Banco Central justamente sobre o PIB potencial e garantiu no discurso de posse que levaria a economia até o limite do seu potencial de crescimento , que ele dizia ser mais próximo de 5% do que dos 3,5%, um limite psicológico nunca explicitado, mas com que trabalhava a equipe econômica do ex-ministro Antonio Palocci e o presidente do Banco Central naquele momento, Henrique Meirelles.
Acima desse nível, começaríamos a ter problemas de inflação e de hiato de produção, isto é, falta de produtos e, no nosso caso, até mesmo apagão de energia. A partir do governo Dilma, tivemos, ao contrário do que ocorreu em 2010 quando crescemos 7,5%, um crescimento médio de 2% do PIB, e a previsão é que a economia continue nesse ritmo este ano e o próximo.
É fato que a taxa média de crescimento brasileiro dos últimos 50 anos está mais próxima de 5%, mas a História recente reduz essa expectativa: de 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 1980 a 2003, 2%. Essa média cresceu um pouco com o resultado dos oito anos do governo Lula, que teve um crescimento médio de 4% ao ano, mas voltou ao nível de 2% no governo Dilma.
O país já teve também períodos de crescimento sustentado de níveis asiáticos: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%.
O esforço feito pelo governo Lula para eleger Dilma Rousseff sua sucessora transformou-se numa verdadeira herança maldita deixada por ele, repetindo o comportamento eleitoral já estudado pela ciência política.
Após um ano eleitoral, um crescimento forte tradicionalmente é marcado por inflação em alta, em consequência do aumento do gasto público. São os chamados ciclos políticos de negócios, gerados pela utilização de políticas monetárias, fiscais e cambiais com objetivos político-eleitorais de garantir ambiente positivo capaz de influenciar o resultado das urnas.
A ampliação do PIB potencial está relacionada com o aumento da taxa de investimento, e, nesse item, estamos em falta. O último dado oficial do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] mostra que a taxa de investimento foi de 18,4% do PIB no primeiro trimestre de 2013, abaixo de economias latino-americanas, sem falar dos principais países emergentes.
Para crescer de maneira sustentada, o mínimo necessário seria um investimento público e privado da ordem de 25% do PIB. Com um atraso de vários anos, estamos agora tentando retomar um ritmo adequado de obras públicas, que deve aumentar essa taxa de investimentos desde que o governo encontre um rumo para as licitações que pretende realizar.
Fonte: O Globo, 04/10/2013
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