Na última edição, o Boletim Focus, que resume as previsões do mercado para a economia brasileira, projeta para este ano alta de 1,57% no PIB. Se confirmada, a taxa marcará o terceiro ano, em quatro, de fraco desempenho da economia, com expansão média no quadriênio 2009-12 de apenas 2,9% ao ano.
Os números são, porém, menos terríveis do que podem parecer à primeira vista. Dado o fraco desempenho do primeiro semestre, para crescer 1,57% em 2012, o PIB terá de se expandir a uma taxa anualizada no segundo semestre de 5,3%, três vezes mais rápido do que na média dos últimos sete trimestres.
Há sinais de que a atividade está se acelerando, a partir dos estímulos monetário, tributário, cambial e de crédito dados pelo governo. Além dos bons números do setor automobilístico, são evidência da aceleração as altas nas vendas de papel ondulado, utilizado para embalar produtos manufaturados, e no tráfego de caminhões em estradas. Outros fatores, como o bom momento do mercado de trabalho e das vendas do comércio varejista, não são novidade, mas formam terreno fértil para a retomada.
Ainda assim, é difícil crer numa aceleração dessa ordem na economia: seria talvez mais plausível trabalhar com a expansão média trimestral de 1% no segundo semestre, consistente com a projeção do mercado de alta de 4% no PIB em 2013. Essa taxa traria a expansão do PIB em 2012 para 1,37%.
Minha visão, porém, é que, mesmo essa projeção mais moderada, pode ser otimista por dois motivos. Primeiro, porque a economia e o comércio mundiais estarão operando em ritmo lento até meados de 2013 pelo menos. Isso significa que o investimento e as exportações andarão em ritmo fraco e é difícil que o consumo doméstico avance rápido o suficiente a ponto de compensar, inclusive porque haverá mais pressão para que mais da demanda interna seja suprida por importações.
Segundo, porque a abertura do PIB no segundo trimestre indica expansão mais fraca da economia do que sugere o número cheio. Assim, mais da metade do crescimento do PIB nesse trimestre decorreu da espetacular alta na agropecuária, de mais de 20% em termos anualizados. Excluído esse setor, o PIB cresceu menos no segundo trimestre do que no primeiro. Isso porque outros setores que vinham bem, como extrativa mineral, comércio, transporte e construção, apresentaram contração.
Por esses fatores, um ritmo anualizado de expansão de 3,2% no segundo semestre, trazendo a alta do PIB em 2012 para 1,2%, parece mais realista. E 2013? É razoável que os estímulos dados à economia continuem operando ano que vem, podendo acelerar o crescimento para algo mais próximo a 4%.
Mas, nesse caso, e a inflação? No já citado Boletim Focus, a previsão do mercado para o IPCA é de alta de 5,35% em 2012, próxima dos 5,32% previstos pelo mercado ao final de 2011. Naquela ocasião, porém, acreditava-se que o PIB cresceria 3,3%, mais do que o dobro, portanto, da projeção atual.
Isso ilustra o fato de que a capacidade de o Brasil crescer sem gerar inflação parece ter diminuído. A principal razão é que a taxa de desemprego está no mais baixo nível da série histórica. Assim, apesar de o PIB ter aumentado apenas 0,6% entre os primeiros semestres de 2011 e 2012, nesse período o emprego subiu 2% e o rendimento real 4,8%.
A curto prazo, há espaço para aumentar a produtividade do trabalho, pois há indicações de que as empresas estão retendo trabalhadores a despeito da fraca produção, mas o fôlego disso será curto se a aceleração do crescimento for forte. Além disso, a pressão sobre os salários será inexorável.
O governo deve reagir com novas isenções tributárias. É provável que também permita a apreciação do real. A queda do preço de eletricidade e a menor alta do salário mínimo também vão ajudar. Ainda assim, haverá pressões inflacionárias de várias fontes: em especial, os preços administrados devem subir mais do que em 2011, com a alta nas tarifas municipais, e as empresas devem buscar recompor as margens, aproveitando o aumento das tarifas de importação e do consumo doméstico.
Nesse quadro, talvez fosse mais sensato começar a desfazer alguns dos incentivos que estão sendo dados, buscando crescimento em 2013 mais próximo de 3%, que parece ser o limite de crescimento sem aceleração inflacionária do país. A alternativa é ir introduzindo distorções na economia, que vão continuar trazendo o potencial de expansão para baixo.
Fonte: Correio Brasiliense, 26/09/2012
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