Na análise da previsão de gastos dos nove candidatos ao governo de Alagoas (R$ 142,5 milhões), chama atenção o contraste entre a corrida milionária por votos e o dia a dia dos eleitores do estado com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil — 0,631 —, onde muitas pessoas se apinham na porta do maior hospital público do estado em busca de atendimento. Na manhã de ontem, Anderson Gabriel da Silva, de 30 anos, era um deles. Ele esperava notícias do pai, Jorge Gabriel da Silva, de 49, internado na UTI do Hospital Geral do Estado. Com o pai sujo de fezes na maca do hospital e o mau cheiro, ele conta que precisou apelar para conseguir uma vaga na UTI.
— Fiz um escândalo para que eles pusessem uma fralda em meu pai e lençóis limpos, e o levassem para a UTI — disse.
Jorge está internado na área vermelha — para doentes com risco de morte.
— É tudo péssimo. Não saio daqui enquanto não souber como está meu pai — comentou Anderson, que veio do interior de Alagoas e não tem o que comer nem onde dormir na capital: — Mais Saúde, moço. A gente precisa de Saúde, de medicamento. As pessoas precisam de assistência. Não é certo viver assim.
Lucimeire dos Santos é avó. Cata o sururu de capote, um marisco que vive na lama do fundo da Lagoa Mundaú, no bairro Virgem dos Pobres, onde mora. Ele é retirado da lama envolvido em uma casca, chamada de capote, e é torrado para abrir. É vendido em latas de leite em pó reaproveitadas. Cada uma sai a R$ 5. Os carros de luxo param à beira da lagoa para comprar. O marisco é revendido nos restaurantes de Maceió. Um prato não sai a menos de R$ 25. Regina tem 6 anos e é neta de dona Lucimeire. Em Virgem dos Pobres, quem manda é o tráfico de drogas que não tem rosto, só nome. A lei do silêncio impede Lucimeire de falar desse assunto. A menina estuda na Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Ponta Grossa, a dois quilômetros de distância.
— Sinto falta da escola ser nos dois horários. Minha neta entra às 7h e sai às 10h30m. Se tivesse aula à tarde seria bom, sairia daqui, seria gente — disse Lucimeire.
Os nove candidatos ao governo de Alagoas prometem implantar escolas em tempo integral. E mais segurança. Números do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, sigla em inglês), divulgados em dezembro do ano passado, mostram que, se Alagoas fosse um país, seria o pior do mundo em leitura, ciência e matemática.
Na Segurança, números do Ministério da Justiça e do Mapa da Violência 2014 mostram que o estado é o que mais mata no Brasil: mais de mil assassinatos este ano, 70% entre 18 e 24 anos.
Acampados na porta do Palácio Floriano Peixoto, sede do governo, integrantes da reserva técnica da Polícia Militar esperam ser chamados ao trabalho. Eles foram aprovados no concurso público, que foi homologado, fizeram os testes físicos e esperam assumir os postos:
— O governador (Teotonio Vilela Filho, PSDB) disse que não nos contrata porque não tem como pagar nossos salários, precisa obedecer à Lei de Responsabilidade Fiscal — disse Rodrigo Lima, representante dos 800 aprovados no concurso: — Vemos que os políticos de Alagoas gastam muito dinheiro com festas e inaugurações, e ficam devendo em investimentos na área social. Somos os piores em Segurança. E estamos dispostos a trabalhar.
Fonte: O Globo, 16/7/2014
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