Após quase dois meses de isolamento social por conta da pandemia do novo Coronavírus, os questionamentos sobre como e quando reabrir a economia se tornam cada vez mais frequentes. Apesar da natural ansiedade para a volta à normalidade, é preciso planejar bem a estratégia para que o processo aconteça de forma gradual e segura, garantindo a sustentabilidade das ações, fazendo com que essa retomada seja definitiva. A análise é de Ana Carla Abrão, economista e coordenadora do Conselho Econômico do Estado de São Paulo, grupo criado para auxiliar o governo estadual no diagnóstico e nas medidas voltadas para a atividade econômica. Em entrevista ao Millenium, Abrão explicou as estratégias que estão sendo definidas. Confira!
Ressaltando que a questão de saúde é prioridade na hora de definir as ações, Ana Carla Abrão destacou que o mais importante agora é planejar com cautela, para que o problema seja superado definitivamente. Uma abertura da economia de forma açodada pode gerar um efeito reverso, com a possibilidade de novas crises e, com isso, novas restrições. Ou seja: um eterno abre-e-fecha da atividade econômica, que seria ainda mais prejudicial. “À medida que você flexibiliza, a tendência é que haja um aumento dos casos. Por isso, esse processo precisa ser controlado, para garantir que o nível de contaminação esteja dentro dos parâmetros que o sistema de saúde consegue lidar, tratar e absorver”, disse.
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Por conta disso, a projeção da curva de contaminação é fundamental inclusive para planejar os cenários futuros. “Precisamos saber como a curva vai se comportar para mitigar os riscos de outros picos, que poderiam fazer com que a economia ficasse nesse processo de abertura e fechamento – o que seria muito ruim. Todo esse arcabouço da modelagem, a avaliação dos impactos setoriais e regionais e o desenho de políticas públicas são as ações que definirão os cenários mais à frente”, afirmou.
Setores terão que se adaptar
A análise do Conselho Econômico sobre os impactos da Covid-19 sobre a economia paulista leva em conta uma série de informações, como a arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por setor – um termômetro da atividade econômica. A coordenadora do grupo explicou, ao Millenium, que existem áreas que sofreram mais e terão que se adaptar ao “novo normal”, como empresas aéreas e as áreas de turismo e hotelaria. Com a mudança nos hábitos de consumo, essas atividades deverão lidar com uma nova realidade por um longo período.
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“Estes setores vão ter que se adaptar e esse processo vai demorar um tempo. Vai haver restrições de viagens, as pessoas vão estar mais receosas”, alertou. Ana Carla Abrão também destacou outra questão relacionada ao enfrentamento da covid-19: o mercado de crédito está pressionado, pois, ao mesmo tempo em que há uma demanda por liquidez; também existe maior inadimplência.
O Conselho
O Conselho Econômico foi criado para municiar o Governo do Estado de informações sobre tudo relacionado aos impactos econômicos do Coronavírus em São Paulo: quais setores estão sendo mais afetados pela pandemia; quais atividades devem ser priorizadas; qual a integração entre as diversas atividades, entre outros pontos. Com isso, a ideia é aumentar a capacidade de tomar decisões por parte dos gestores públicos. O grupo é composto por economistas de renome, como o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, Alexandre Schwartsman; e o diretor de Pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Haddad.