Plano de negócios da Petrobras privilegia interesse do governo
O preço da gasolina é fixado por critérios políticos, mas o do estanol é determinado pelas intempéries do mercado
A notícia dos cortes nos investimentos da Petrobras para os próximos cinco anos provocou uma série de indagações. Segundo a Petrobras, o adiamento do novo plano se justificaria devido ao pedido do conselho de administração da estatal, que teria achado o plano muito ambicioso e de difícil realização.
Segundo notícias divulgadas na imprensa, a diretoria da estatal teria sugerido investimentos de US$ 260 bilhões para os próximos cinco anos, o que significaria aumento de U$ 36 bilhões quando comparado ao plano anterior divulgado em 2010. Com isso, surge uma série de explicações sobre o que estaria por trás da decisão do conselho de administração.
A explicação positiva e que agrada ao mercado seria que o conselho da empresa, finalmente, estaria olhando para o acionista e, com isso, obrigando a estatal a divulgar um plano de negócios exequível e compatível com a realidade econômico-financeira da empresa.
Caso o novo plano de negócios esteja mais direcionado ao acionista, o mercado espera cortes nos investimentos em refinarias, na produção de biocombustíveis e a manutenção e mesmo o aumento no pré-sal.
A explicação negativa e que não agrada ao mercado seria que os cortes serão feitos por dois motivos.
O primeiro é que o governo manterá a atual política de preços da gasolina e do diesel, que são responsáveis por 60% da receita da empresa com a venda de derivados, e a redução no caixa deverá determinar corte no investimento. O segundo motivo é o uso da Petrobras na política de ajuste fiscal do governo.
Qual das duas explicações é mais provável ser a verdadeira? Se observarmos o passado, verificaremos que a segunda reúne mais chances. Nos dois mandatos do presidente Lula, a Petrobras sempre foi usada como instrumento político para atender os projetos do governo, causando grandes perdas aos acionistas minoritários.
No segmento de combustíveis, também sob Lula e agora com a presidente Dilma, a Petrobras foi e está sendo usada para manter na refinaria os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha alinhados de acordo com os interesses do governo em segurar a inflação. O gás de cozinha não tem seu preço alterado na refinaria desde o primeiro dia do governo Lula até o presente.
Nesse caso, a justificativa são os impactos sociais que podem provocar qualquer alta no preço desse produto.
A gasolina não tem seus preços alterados nas refinarias da Petrobras desde 2005.
De lá para cá, os preços do petróleo e da própria gasolina no mercado internacional sofreram grandes oscilações, mas, no mercado interno, nada aconteceu.
Isso provoca grandes distorções no mercado e problemas para a Petrobras. No mercado interno, cria uma competição desigual com o etanol, dado que a gasolina tem seu preço na refinaria fixado por critérios políticos, enquanto o etanol tem seu preço determinado pelas intempéries do mercado.
O critério político, também, faz com que os resultados dos balanços da estatal sejam prejudicados, afetando o acionista minoritário e o caixa da empresa.
Não bastasse tudo isso, há algumas semanas o governo declarou que transformará a Petrobras em grande produtora de etanol, para poder regular seu preço.
Portanto, o passado e o presente não nos dão esperança de que o plano de negócios da estatal privilegiará o acionista e o mercado.
Fonte: Folha de S. Paulo, 03/06/2011
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