Um cavalo alado, 12 deuses em armaduras douradas e um adolescente de cabelos negros e postura altiva levaram o pequeno Hugo Yang a ter sua primeira experiência com empreendedorismo. Então com 9 anos, ele sonhava em ter um boneco de ao menos um dos personagens do desenho japonês “Cavaleiros do Zodíaco”. Embora fossem de classe média alta, seus pais não topavam liberar dinheiro nem brinquedos para Hugo e seus dois irmãos fora de datas como o dia das crianças, o Natal ou o aniversário. A saída encontrada pelo garoto para colocar as mãos nos heróis de brinquedo, antes que eles acabassem, foi revender os pães de mel que sua vizinha produzia.“Em vez de um, consegui comprar alguns”, diz ele.
Hugo credita à educação que recebeu a familiaridade que tem com os negócios e o gosto por trabalho social. Desde pequeno, sua mãe, Rosângela, o levava para as obras de caridade da igreja que frequentava em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. A mais comum era promover arrecadação de alimentos e brinquedos na vizinhança e distribuir em comunidades carentes. Hugo nunca mais parou. Quando entrou para a faculdade de economia, no Insper, deu aulas de matemática para alunos de escolas públicas e organizou campanhas para arrecadar dinheiro para instituições de caridade. Ao se formar, trabalhou no mercado financeiro, onde ingressara como estagiário. Mas sentia falta de algo. “Queria fazer a diferença na vida das pessoas, não de cotistas de fundos”, diz ele.
A virada foi em 2013. Aos 26 anos, Hugo encontrou um jeito de reunir a veia empreendedora com o gosto por ações de impacto social ao se associar à Fábrica de aplicativos, uma empresa fundada em 2011. Hoje, ele é o CEO da companhia. Abraçou um salário equivalente a um quarto do que recebia no mercado financeiro para levar oficinas gratuitas e ferramentas para jovens de escolas, ONGs e outras instituições públicas e privadas. O objetivo é dar a esses jovens a possibilidade de solucionar problemas de seu dia a dia com o uso de tecnologia. Os participantes da oficina identificam os problemas que querem sanar e usam os recursos da Fábrica de aplicativos para criar soluções.
Os 5 mil jovens que já passaram pelas oficinas criaram um sistema para mapear hospitais da cidade, um programa com alerta e informações sobre perigos de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e um sistema com dicas para pais de primeira viagem, entre milhares de outros programas para celulares. “Usamos a tecnologia para despertar a cidadania nos jovens. Mostramos que eles mesmos podem solucionar problemas de seu dia a dia ou de sua comunidade”, diz Hugo. Versões pagas e mais sofisticadas da ferramenta são responsáveis pela renda da empresa, que, em 2016, deverá faturar R$ 2,5 milhões. Até hoje, foram criados 350 mil programas de celular com a plataforma.
No curto prazo, Hugo quer atingir o maior número possível de pessoas com suas oficinas. No longo prazo, tem um alvo bem específico: ser presidente da República. “Enquanto isso, invisto o que posso em educação, o caminho para desenvolver o país”, diz.
Fonte: “Época”.
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