Quando o assunto é representação, os partidos políticos brasileiros deixam a desejar. No entanto, são campeões no quesito “fragmentação”. Um estudo feito pelo americano Scott Mainwaring, professor na Universidade de Harvard, mostrou que o Brasil está no ranking das eleições mais fragmentadas do mundo, ou seja, possui o maior número de partidos eleitos com poder efetivo nas decisões do Congresso Nacional. O levantamento analisou a disputa para a Câmara dos Deputados de 67 países desde a década de 40.
O doutor em ciência política e especialista do Instituto Millenium, Nuno Coimbra, ressalta que o número exagerado de cadeiras no parlamento acaba prejudicando o Executivo na hora de fazer coalizões para governar, tornando esse processo mais custoso. Com isso, podem ocorrer problemas graves de governabilidade, como dificuldade em implementar agendas ou então a necessidade de fazer muitas concessões e distribuir cargos, o que dá margem para a corrupção. “Hoje, são quase 30 partidos com representação no Congresso, mas não temos tantas ideologias e formas distintas de pensar. O eleitor não consegue identificar essa diferença”, ressalta Coimbra, destacando que, para ele, as reformas aprovadas no ano passado ainda são muito tímidas. Ouça a entrevista abaixo!
“O que precisa ser feito é tornar mais sensato o financiamento de partidos. É necessário fazer mudanças para baratear esse processo, e ter uma cláusula de barreira mais séria que limite o número de partidos ou que crie barreiras para que eles tenham acesso à representação, condicionando isso a um número maior de votos”, complementa, acrescentando que o Fundo Partidário também não pode ser um estímulo para a criação de novas agremiações.
O especialista comentou ainda a tentativa dos partidos de melhorarem suas imagens junto à população, adotando novas siglas e slogans. Para o cientista político, a medida é uma percepção de que essas instituições estão muito desgastadas no Brasil. “Isso evidentemente não resolve o problema. É preciso uma reformulação desses partidos para que eles deixem de funcionar meramente como siglas partidárias e que de fato representem segmentos da população, busquem o enraizamento da sociedade, a participação das pessoas… Não vai haver reforma sem a pressão cidadã”, alerta.