E lá vamos nós novamente com mais medidas do governo para estimular a economia. O velho uso de IOF e IPI para estimular o consumo não apenas cheira a falta de imaginação, mas beira o inócuo num momento em que a economia mundial passa por grave risco por conta do euro.
O problema aqui é que tudo o que o governo tem feito desde o começo do ano é focado no crescimento de curto prazo a qualquer custo.
O governo do primeiro semestre praticamente se envergonhava das medidas de austeridade, como se estas não fossem algo natural a se fazer. O governo do segundo semestre está ao natural, aproveitando uma crise internacional que se alastra.
Isso abriu espaço para o início de políticas fiscal e monetária agressivas. Já estamos nesse ritmo sem ruptura na Europa e com a inflação no teto da meta.
Como será se de fato tivermos uma crise mais grave? O que o governo poderá tirar da cartola para estimular ainda mais a economia? Não muito mais, talvez queda do compulsório, cortes adicionais, mas poucos da Selic, e um empuxo fiscal mais significativo.
O ponto disso tudo não são as medidas em si, mas a quase vergonha que o governo sente de entregar o primeiro ano do governo Dilma com crescimento de 3% e correndo o risco de o segundo ano novamente entregar crescimento nessa faixa.
Mas quando se disse que temos condições de crescer muito mais do que isso sem gerar inflação? Não fizemos mais reformas estruturais relevantes nos últimos anos e o mundo não mais colaborará.
Assim, como imaginar crescer de forma sustentada e elevada com meras políticas de curto prazo? Pois o ponto é que justamente estamos reeditando a política do arroz com feijão do governo Sarney.
Àquela altura, não se sabia o que fazer com a hiperinflação montada e só restava administrar o dia a dia. Agora, não sabemos o que fazer para crescer no longo prazo, então voltemos para administrar o curto prazo. Meros ajustes para estimular o crescimento de 2012 não são apenas irrelevantes, mas tiram o foco do que deveria ser incentivado.
O Brasil sempre apresentou capacidade de renovação em momentos de crise. Não aproveitamos a última para fazer reformas estruturais. Parece que não vamos fazer isso novamente. Como se não houvesse mais o que fazer para dar sustentação à expansão de longo prazo.
O teste maior do governo será em 2013 e 2014, quando estivermos com chances de retomada mais forte da economia. Nesse momento, a inflação voltará mais virulenta do que voltou nos últimos dois anos.
Esse arroz com feijão tem sido o resumo da política econômica brasileira nos últimos dois anos, período que tenho escrito para este jornal. Se escrevesse mais dois anos, acredito que não apenas veríamos mais do mesmo, mas com uma leve tendência de piora.
Mas, como tudo na vida tem seu ciclo, encerro aqui minha aventura de colunista no “Brasil Econômico”, um pouco descontente com os descaminhos pelos quais o país tem optado, mas feliz pelo espaço a mim concedido. E que a mediocridade reinante em Brasília tenha a vida curta que todos esperamos que tenha.
Fonte: Brasil Econômico, 05/12/2011
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