Levantamento realizado pela revista Congresso em Foco, em 2017, mostrou que 62% dos deputados e 73% dos senadores brasileiros têm parentesco com outros políticos. Em 2014, um estudo da ONG Transparência Brasil apontou o Rio Grande do Norte como o estado com a maior incidência de laços familiares, 100% dos deputados federais eleitos tinham parentesco político. Nestas eleições, não poderia ser diferente. Os vínculos familiares se repetem afetando ainda mais o processo de renovação política: ao menos sete chapas para o Senado são formadas por, no mínimo, dois parentes.
Para o advogado e conselheiro do Imil Sebastião Ventura, o Brasil conta com autênticas dinastias políticas, impedindo que novas estruturas governamentais sejam implementadas. Os atuais partidos do país não oferecem preparação adequada para a vida pública, e enquanto houver a herança familiar for determinante nas eleições, dificilmente estaremos diante de uma reforma política, explica:
“Enquanto não tivermos partidos comprometidos com os ideais da democracia, em promover o Estado Brasileiro, garantir que o capitalismo nacional prospere e escolher pessoas habilitadas e comprometidas com a decência pública ao invés de passar os cargos de geração para geração, vamos continuar com essa política feita entre amigos, entre a corte de Brasília e os bobos que são o povo”. Ouça a entrevista completa no player abaixo:
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Outro impasse para a mudança no Congresso, aponta Ventura, é o modelo de financiamento de campanhas eleitorais, onde antigos nomes da política acabam sendo os beneficiários. “Esses recursos públicos deveriam ser divididos de forma paritária, mas não, os caciques se apropriam e denominam quem vai receber e quem não vai. No final do dia, são os velhos políticos, através de velhas estratégias que mantêm o domínio do Congresso Nacional, impedindo que novas visões venham iluminar a política nacional”.
A democracia vai muito além das eleições e a contribuição diária dos cidadãos é fundamental para a renovação política brasileira, observa o advogado, ressaltando a importância do comprometimento da sociedade civil e setores empresariais com os ideais da democracia:
“O povo não pode ser o soberano de um dia só, ir na eleição, votar e pensar que isso aí é democracia. Não! O voto é necessário, mas democracia é mais do que voto. É fundamental que a sociedade se organize cada vez mais, que as lideranças cívicas participem, tenham coragem de falar e não se calem mais para as mentiras do poder. A democracia é um regime que exige a voz das pessoas. Se a política não funciona, os cidadãos devem reagir e quando as ruas gritam, a política escuta”.