A piora nas contas públicas, o reaparecimento da inflação, a queda nos investimentos e no PIB, o recente rebaixamento da perspectiva da dívida do Brasil de estável para negativa pela agência de classificação de risco Standard & Poor´s, sem falar na carga tributária escorchante que afeta o desenvolvimento das empresas e do país, são apenas alguns dos sérios problemas que a economia brasileira vem enfrentando. Nesta entrevista, Gustavo Grisa, que é economista com MBA em Negócios Internacionais pela Thunderbird School (EUA), sócio da consultoria Agência Futuro e especialista do Instituto Millenium afirma que será necessário a partir de 2015 fazer um ajuste fiscal severo e explica por que: “Simplesmente por uma razão imperativa: as contas precisam fechar, e o crescimento da receita através da carga tributária está no limite do estrangulamento”.
Imil: Depois da crise de 2008/2009, tudo indica que houve uma onda de afrouxamento generalizado de restrições orçamentárias. Como o senhor analisa o cenário atual decorrente dessa situação?
Gustavo Grisa: O dispêndio público aumentou mais em função de uma gestão que não priorizou o seu controle do que da tentativa de contrapor à crise internacional. O afrouxamento foi generalizado, e não um processo seletivo de investimento e modernização institucional, como seria o indicado. O cenário atual é que teremos que realizar este ajuste nos próximos três anos, com menos opções de escolha.
Imil: Em 2010, às vésperas das eleições presidenciais, Dilma Rousseff declarou: “O papo de ajuste fiscal é a coisa mais atrasada que tem. Não se faz ajuste fiscal porque se acha bonito. Faz (sic) porque precisa. E eu quero saber: com a inflação sob controle, com a dívida caindo e com a economia crescendo, vou fazer ajuste fiscal para contentar a quem? Quem ganha com isso. O povo não ganha.” (O Globo, 11/9”). Chegamos quase ao fim do primeiro mandato, o cenário econômico mudou, para não dizer, piorou. Não tínhamos, por exemplo, o reaparecimento da inflação. O que pode vir por aí?
Grisa: Será necessário, possivelmente a partir de 2015, um ajuste fiscal severo, simplesmente por uma razão imperativa: as contas precisam fechar, e o crescimento da receita através da carga tributária está no limite do estrangulamento. A grande questão é a má qualidade do gasto público, ou seja, o baixo retorno que o cidadão recebe em proporção aos recursos utilizados. Os recursos para investimentos são ínfimos se comparados ao custeio, principalmente com pessoal. Quanto ao controle inflacionário, é mandatório, por uma constatação muito simples: a inflação corrói a qualidade de vida da classe média, e, principalmente, da classe trabalhadora.
Imil: Recentemente, o IBGE divulgou que as despesas da administração pública cresceram 2,8% no acumulado dos últimos quatro trimestres. O PIB, por sua vez, teve alta de 1,2% na mesma comparação. Mas para manter essa tendência, o governo federal anunciou revisão do orçamento de 2013, elevando as despesas em relação ao ano passado. Esse aumento de gastos não vai estimular mais a inflação do que o PIB e piorar o perfil das contas públicas? Como o senhor analisa esta situação?
Grisa: O problema é exatamente esse: não se trata de investimento da administração pública, em infraestrutura e melhoria de competitividade e produtividade do país, e sim aumento das despesas, principalmente com custeio. No máximo, há um benefício do maior consumo por parte do funcionalismo, mas que tem um efeito marginal na economia. Portanto, sem efeito significativo no PIB. A piora no perfil das contas públicas é evidente, é matemática.
Imil: Como a sobrecarga fiscal que hoje recai sobre a economia brasileira prejudica o país?
Grisa: Adiciona perda de competitividade no âmbito internacional, mesmo com desonerações em alguns segmentos; adiciona perda de competitividade aos custos logísticos e baixa produtividade em alguns segmentos. E, acima de tudo, entrega pouco em troca de muito; é um elemento refrator da produtividade do país, devido à má qualidade do gasto público.
Imil: Há poucas semanas, a agência de classificação de risco Standard & Poor´s anunciou o rebaixamento da perspectiva da dívida do Brasil de estável para negativa, devido à piora nas contas públicas, ao crescimento fraco e à inflação. É a primeira vez que isso acontece desde 2002. O senhor acredita que este cenário pode ser revertido e quais medidas deveriam ser tomadas?
Grisa: Este cenário pode ser revertido a partir de um melhor controle das contas públicas, do estrito cumprimento das metas de inflação, e de um crescimento a partir de desoneração tributária global, e não apenas setorizada. Além disso, uma modernização institucional de forma a capturar investimentos produtivos também na área de infraestrutura.
Imil: Quais os riscos da falta de uma política econômica que não tenha planejamento em médio prazo? Isso gera insegurança? Quais as consequências dessa insegurança em nível nacional e internacional?
Grisa: É a perda de oportunidades nos momentos em que há uma conjuntura internacional favorável. O Brasil acaba fazendo uma “subperformance”, que é o que aconteceu na última década. Da mesma forma, leva à desvalorização dos ativos do País e um clima de incerteza quanto a investimentos internacionais. Devemos nos preparar para uma nova conjuntura internacional que deve acontecer a partir da retomada econômica da Europa e Estados Unidos. Precisamos de firmeza na gestão do ajuste de gastos públicos-inflação-câmbio para evitar o efeito retardado a partir da crise de 2008-2009. Historicamente, a economia brasileira demora alguns anos para reagir aos ajustes internacionais. Precisamos ler corretamente a nova conjuntura internacional e ajustarmos à política econômica; controle inflacionário e redução dos gastos públicos são imperativos.
Muito boa entrevista! Resumiu a questão toda de forma simples e fácil de entender. Ou seja…é preciso mudar a política econômica para os próximos anos que virão.
Todo mundo fala de carga tributária, taxa de juros, balança comercial, má gestão de gastos públicos. Tudo isto é importante no quadro estrutural que vivemos, onde o governo não tem aa menor importância na ORIENTAÇÃO, PLANEJAMENTO do panorama econômico. Estes governos liberalizantes à Reagan e Tachter, desde FHC, passando pelo molusco e chegando à sua filhota, são meros peões do capital internacional e suas subdivisões – multinacionais, bancos, conglomerados de mídia e internet, etc. – e não há qualquer perspectiva de não afundar neste mar de interesses financeiros.
Entretanto, quem sustenta este país é o agronegócio, ainda em boa parte nas mãos de brasileiros, que não têm sequer um projeto de ação governamental em prol do setor, sequer 1% das benesses que as multinacionais recebem do governo, diretamente ou através de incentivos e financiamentos.
Criem um programa sério para o campo e até as megacidades vão se beneficiar diretamente.