Desejo de renovação externado nas manifestações de junho de 2013 fica para trás: dos 90 candidatos a deputado federal mais lembrados pelos eleitores em 18 Unidades da Federação, só 3 são estreantes nas urnas e não vêm de famílias de homens públicos
Se 70% dos brasileiros afirmam esperar mudanças em relação ao próximo presidente, uma série de pesquisas Ibope indica que uma renovação expressiva dificilmente ocorrerá na Câmara dos Deputados. Dos 90 candidatos a deputado federal mais lembrados pelos eleitores em 18 unidades da Federação, apenas 3 são estreantes nas urnas e não vêm de famílias de políticos. Todos os outros 87 já têm um passado na política, seja por experiência própria ou pelo sobrenome.
Os dados foram calculados com base no resultado das pesquisas da série Deputados do Ibope, que pode ser contratada pelos próprios candidatos que desejam ver os cinco mais citados espontaneamente pelos eleitores nos maiores Estados, além da sua própria posição no ranking geral. A conclusão é de que o discurso da renovação, que ganhou força após as manifestações de junho de 2013 e, na corrida presidencial, se personalizou na liderança de Marina Silva (PSB) entre quem quer mais mudança que continuidade, não deverá se manifestar com tanta força na nova composição do Legislativo federal.
Dos 90 candidatos preferidos dos eleitores até agora, 83 já são políticos e foram eleitos para cargos eletivos em pelo menos uma ocasião anterior. A maioria – 51 nomes – já está na Câmara, e outros quatro estiveram em legislaturas passadas. Além deles, 17 são atualmente deputados estaduais, que tentam pela primeira vez chegar à esfera federal concorrendo para o cargo. O resto já ocupou mandato de vereador em alguma cidade importante do seu Estado ou cargos executivos, caso do ex-prefeito de Belém Edmilson Rodrigues (PSOL) ou do vice-governador de Mato Grosso Chico Daltro (PSD).
Novatos – Dos sete estreantes, quatro podem atribuir ao sobrenome o motivo para estar na lista dos preferidos do eleitorado. Dulce Miranda (PMDB) é ex-primeira dama de Tocantins, casada com Marcelo Miranda, ex-governador e candidato ao cargo. O alagoano Pedro Vilela (PSDB) carrega o sobrenome do ex-senador Teotônio Vilela, seu avô, e do governador Teotônio Vilela Filho, seu tio.
Também em Alagoas concorre Nivaldo Albuquerque (PRP), filho do deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa Antônio Albuquerque. Vicentinho Jr. (PSB-TO) só se difere do trio porque não precisa usar o sobrenome do pai, o senador Vicentinho Alves.
Restam os três estreantes que não são parentes de políticos, mas dois ocuparam cargos de confiança em gestões municipais: Tiago Adrino (PP) foi secretário em Palmas (TO) e Felipe Carreras (PSB), no Recife. Éder Mauro (PSD-PA) é um delegado com fama de linha-dura.
Em família – Quando se leva em conta todos os 90 candidatos, a taxa dos que têm parentes na política é considerada alta e chega a 44%. O Rio Grande do Norte chama a atenção nesse quesito: todos os cinco mais lembrados pelos eleitores vêm de famílias tradicionais da política no Estado.
A lista contém todos os sobrenomes mais importantes – Walter Alves (PMDB), filho do senador Garibaldi Alves Filho; Fábio Faria (PSD), filho do vice-governador e candidato a governador Robinson Faria; Felipe Maia, filho do senador José Agripino Maia; e Fafá (PMDB) e Sandra Rosado (PSB) – as duas são primas, vindas da família política mais importante de Mossoró.
Natália Alves, pesquisadora da Transparência Brasil, disse que a taxa de parentesco entre os candidatos é a mesma que a entidade já havia apurado para a atual legislatura da Câmara dos Deputados. “O discurso pela mudança é bastante forte, mas vários políticos tentam se apropriar disso para lançar parentes mais novos, que tentam se eleger com a bandeira da renovação”, afirmou. Segundo ela, a manutenção de clãs políticos no Congresso dificulta a realização de reformas abrangentes na legislação. “Passando o cargo de parente para parente, cria-se uma Câmara avessa a mudanças.”
Para Natália, é necessário mais pesquisas para entender a diferença de comportamento do eleitor ao decidir seu voto para presidente e para deputado. “Há diversas diferenças. No âmbito estadual, por exemplo, é mais fácil que as mesmas figuras se repitam, o que inibe a renovação. De qualquer maneira, não se pode cobrar coerência política do eleitorado.”
Fonte: O Estado de S. Paulo
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