Nos anos 20 do século passado, o brilhante economista John Maynard Keynes vislumbrava pontes de papel sobre o Oceano Atlântico: “A recuperação econômica da Alemanha depende de um enorme fluxo circular de papéis, com os Estados Unidos dando empréstimos à Alemanha, que usa os recursos para reparações de guerra feitas à Inglaterra e à França, que por sua vez pagam suas dívidas com os Estados Unidos.”
A ciranda financeira era um esforço para a manutenção da atividade econômica mundial após a I Grande Guerra.
Na primeira década do século XXI, as pontes de papel estão sobre o Pacífico. O excesso de poupança dos asiáticos estimulou o extraordinário endividamento dos americanos.
Especialmente os chineses financiam os gastos excessivos dos Estados Unidos, que por sua vez se transformam em mais exportações, maior crescimento e novos empregos. O esforço das autoridades tanto na China quanto na América é não deixar que se queimem as pontes de papel na tentativa de manter sua prosperidade econômica.
Como sabia Keynes à época que era insustentável a antiga ordem, e inevitáveis as mudanças, sabemos hoje que também se aproxima do esgotamento a simbiose sino-americana. O capitalismo desimpedido exigiria ajustamentos fulminantes. As quedas de preços de ações e imóveis na América derrubariam o consumo.
A falência das agências americanas de crédito imobiliário dissolveria mais de US$ 1 trilhão acumulados em manipulações cambiais pelo Banco Central da China. A desvalorização do dólar e a valorização do yuan seriam inevitáveis.
O abalo do status do dólar como moeda de reserva da economia global interromperia os abusos do Federal Reserve, o banco central americano, em sua emissão descontrolada.
E o modelo chinês de crescimento teria de se basear no consumo interno, evitando a deflagração da guerra mundial por empregos. Este não é, entretanto, o mundo em que vivemos.
Permanecem sob controle das autoridades preços críticos da economia global, como as taxas de juros na América e a cotação dólar/yuan manipulada pela China. Temos pela frente um longo período de reflação da demanda global.
É nesse ambiente global de liquidez abundante, taxas de juros artificialmente baixas, preços de commodities inflados, manipulação cambial e guerra mundial por empregos que a economia brasileira se deslocará no futuro próximo.
A liquidez abundante, o excesso de oferta de mão de obra não qualificada e a disponibilidade de novas tecnologias tornam o empreendedorismo o fator escasso e, consequentemente, o mais valioso da nova ordem econômica mundial.
Desse empreendedorismo dependeremos também para a recuperação de nossa dinâmica de crescimento, baseada em um mercado interno de consumo de massas.
Sua missão é mobilizar e coordenar fatores de produção críticos a nosso desempenho futuro: educação, logística e fontes de energia renováveis.
Fonte: O Globo – 23 de novembro.
Muitas dúvidas quando a Keynes. Em 1945 ele declarou que a eugenia era ” o mais importante, significativo e, eu acrescentaria, genuino ramo da sociologia que existe”