Infelizmente, não temos nos saído bem nesse quesito. Passamos o tempo, na última temporada de caça ao voto, debatendo questões de costumes e as falhas pessoais de candidatos, aos moldes da campanha de Trump, que conseguiu focar a agenda, quase exclusivamente, nos emails de Hillary Clinton. Ora, no presidencialismo, o governante é responsável por implementar políticas públicas que funcionem tanto para fazer o país crescer como para diminuir as mazelas sociais, ou ainda prestar serviços de educação, saúde e segurança, entre outras iniciativas.
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Esperemos que o novo pleito subnacional foque no que, de fato, o país precisa em cada município e que paremos de competir com base no conservadorismo nos costumes ou nos eventuais erros percebidos nos adversários, numa análise que tem pouco de avaliação serena.
Nesse sentido, foi alvissareiro o anúncio do trio que recebeu o Prêmio Nobel de Economia. Esther Duflo, Abhijit Banerjee (ambos do MIT) e Michael Kremer (da Universidade Harvard) foram reconhecidos por seu trabalho de pesquisa que mostra que boas políticas públicas baseadas em evidências (e não em meras convicções ou intuições ideológicas) podem atenuar de forma importante a pobreza. Num dos estudos dos economistas, cerca de 5 milhões de crianças indianas com baixo desempenho participaram de um programa de reforço escolar sólido, o que aumentou muito o seu aprendizado, num comparativo com dar alimentação escolar ou mais livros escolares, outras opções de políticas públicas. O que contou foi um professor bem preparado e material adequado em suas mãos.
Eles fizeram o mesmo com outras políticas, como saúde, e passaram a liderar um movimento, a partir do J-PAL, ou Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab, um centro de pesquisas que trabalha para reduzir a pobreza por meio de evidências científicas. Hoje, segundo disseram na entrevista dada nesta semana no MIT, são cerca de 400 economistas que utilizam metodologias baseadas em ensaio clínico randomizado (ou RCT no acrônimo em inglês) para estabelecer que práticas funcionam e podem ser escaladas em políticas públicas.
Sim, existem visões de mundo distintas, e isso pode nortear escolhas de políticas públicas. Daí o motivo por que o debate precisa ocorrer com base nas políticas propostas e os candidatos selecionados por sua competência em liderar a implementação. Mas os projetos que as integrarão devem estar centrados em políticas públicas que promovam um crescimento de longo prazo que inclua a todos.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 18/10/2019