Alguns bolsonaristas parecem estar ainda em campanha. Passam os dias incensando e endeusando seu “candidato”. Os acertos são cantados em prosa e verso, enquanto os erros são varridos para debaixo do tapete. E ai de quem ouse criticar o Mito ou sua turma. É logo acusado de “torcer contra o país” ou de “choro de perdedor”, quando não de ser invejoso ou despeitado, “porque meu candidato tem voto e o seu, não” (nesse ponto, eles aprenderam direitinho com os petistas). O discurso mais em voga é o que exige “aguardar o início do governo para começar a criticar”.
Enquanto isso, o presidente eleito e seus auxiliares próximos, os quais, queiram os bolsonaristas ou não, são os personagens mais importantes da cena atual de Pindorama, continuam a nos brindar com um verdadeiro festival de improviso, amadorismo, idas e vindas, trocas de acusações públicas, truculência verbal e demonstrações explícitas de vaidade – guardadas as exceções de praxe.
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Ao contrário dos entusiastas e tietes de políticos, acho que o dever de todo cidadão não é apenas aplaudir as boas ações e decisões, mas principalmente criticar o que considera errado. Não existe homem perfeito e muito menos político perfeito. Os liberais, by default, acreditam que todo o governo é ruim, e tentar melhorá-lo, um dever (nesse aspecto, discordo de Mencken). Ademais, acho que o principal dever dos liberais em uma democracia é ser uma espécie de oposição sistêmica aos governos. No minuto em que começam a abdicar dessa função de vigilância, para virar tietes de políticos, se tornam ridículos.
Embora bastante cético, torço para que o futuro governo dê certo, até porque moro aqui e só teria a perder em caso de novo fracasso. Mas com elogios e aplausos apenas, você não ajuda nada. Aliás, minto: ajuda a criar monstros. Lembram-se de Lula, “o infalível”? Pois é. Não que não devamos elogiar as decisões corretas e ajudar a implementar as boas políticas, mas a crítica é muito mais necessária do que o aplauso. Ah, mas algumas críticas são injustas. Sim, e isso é da vida. Mas muito pior do que críticas injustas é crítica nenhuma.
De minha parte, prometo elogiar o que achar que devo elogiar e criticar o que achar que devo criticar. A proporção vai depender muito mais deles do que de mim.
Fonte: “Instituto Liberal”, 09/11/2018