O setor de bioeconomia é bastante promissor no Brasil, e para que o país consiga atrair investimentos externos para a retomada econômica pós-pandemia, será necessário optar por projetos de infraestrutura sustentáveis e limpos. Segundo o Programa de Investimentos Verdes no Brasil (BGFP, na sigla em inglês), são necessários R$3,6 trilhões em obras de infraestrutura com esse fim, no Brasil, para os próximos 20 anos.
O procurador especial ambiental da OAB Federal, cientista político, professor e sócio da Mello Frota Consultoria, Leandro Mello Frota, explica que, por meio do BGFP, o Brasil tem condições de aliar a infraestrutura verde com a proteção do meio ambiente, além de propiciar a geração de empregos. Ouça o podcast!
“O programa sinaliza para o mercado financeiro global que o poder público também vai ter um foco na política de ESG, que em português significa ambiental, social e governança”, comentou.
No caso do saneamento básico, o Brasil segue avançando, e uma evidência é o Marco Regulatório do Saneamento, aprovado recentemente. Outro ponto que tem sido levantado é a política de energia renovável.
“O Brasil já é um dos grandes campeões de energia renovável, mas agora ele atrai essa política de ESG, ou seja, uma política pública (mas que também pode ser privada) em que se pense na proteção do meio ambiente e nos princípios do desenvolvimento sustentável; na questão social, com políticas que, de fato, alterem a vida da sociedade como um todo; e há, ainda, a governança, que são critérios sérios de transparência e fiscalização”, explicou.
Nesse sentido, o nosso país tem uma grande oportunidade de ser um grande player mundial de políticas de investimentos verdes, especialmente por três fatores: “primeiro, temos um sistema bancário que apoia projetos de infraestrutura verde. Nossos bancos de fomento estão apostando cada vez mais nesses projetos. Segundo, os investidores estão investindo em fundos ESG. E terceiro, o Banco Central se comprometeu a emitir a divulgação de dados financeiros sobre o clima. Então aquele investidor de infraestrutura verde vai ter o Banco Central regulando e mostrando todo esse cenário de investimentos em projetos voltados para o clima”, elencou.
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Outros elementos que podem ser destacados como grandes possibilidades para o Brasil se tornar um grande destaque nesse setor são a agricultura de baixo carbono; a matriz energética de energias renováveis; políticas voltadas para o saneamento básico e as concessões feitas já no padrão ESG, como é o caso da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).
“As concessionárias vão ter a obrigação de despoluir a Baía de Guanabara; de revitalizar a bacia do Rio Guandu, que é importantíssima para o Sudeste; despoluir as lagoas da Barra da Tijuca, que é um bairro importantíssimo para o Rio de Janeiro; realizar obras de infraestrutura nas comunidades carentes; e as empresas já se comprometeram a ter equidade nas contratações, levando mais mulheres para o mercado de trabalho”, exemplificou.
Para o especialista, com foco nos investimentos verdes, o país tem tudo para avançar consideravelmente. “O Brasil é um celeiro de oportunidades. E como eu gosto de dizer para as pessoas, a área ambiental já deixou de ser uma ideologia da classe média alta ou de hippies. O mercado financeiro olha para a área ambiental; as outras nações olham atentamente para essa área; as mudanças climáticas já causam prejuízos de trilhões do mundo. Então a área ambiental já deixou de ser algo bonito para ser defendido para algo simplesmente sério”, alertou.
Apesar de ainda haver a necessidade de se discutir e solucionar diversas questões como desmatamento, mineração ilegal, regularização fundiária, entre tantas outras, pode se dizer que, para os próximos anos, as perspectivas de desenvolvimento neste setor são boas.
“O Brasil vem fazendo seu dever de casa, mas não na velocidade que gostaríamos. Os passos têm sido muito lentos. Queremos que nosso país voe e ele, por enquanto, está engatinhando, mas vem sinalizando pelo menos os nossos carros chefes, agricultura, saneamento, energia. Queremos ser players globais e players verdes desses segmentos”, concluiu.
O entendimento dos empresários e do setor público a respeito das regras do ESG é fundamental para destravar o crescimento do Brasil no setor de bioeconomia. A expertise do país é grande e só precisa de um pouco mais de investimento para, finalmente, deslanchar, e cooperar ainda mais com a economia brasileira.