A economia mundial parou para conserto. As modernas democracias liberais vergaram sob o peso de seus próprios excessos. Para o Ocidente em transe, serão anos de ajuste e reformas ou décadas de declínio. A desaceleração econômica e a persistência de elevadas taxas de desemprego nos países avançados revelam os efeitos pífios de instrumentos monetários e fiscais para reverter o fim de um longo ciclo de crescimento. As pressões de custo e a ameaça inflacionária, apesar da capacidade ociosa, indicam limites à prática de dinheiro barato e crédito fácil por parte dos bancos centrais.
A crise fiscal dos países ricos impede, por sua vez, o recurso à expansão dos gastos públicos na tentativa de criar empregos. E a manipulação cambial chinesa reforça os ventos gelados de um longo inverno sobre a produção e o emprego, uma verdadeira Idade do Gelo nos dois lados do Atlântico Norte. Mas, ao contrário do que possa parecer, o Brasil não é apenas uma folha ao vento da globalização. A dimensão de nosso mercado interno nos permitiria uma dinâmica própria de crescimento. O esfriamento das economias centrais — após longo ciclo de inovações tecnológicas, expansão acelerada de crédito e ampliação do comércio global — significa também uma extraordinária oportunidade para as economias emergentes.
Haverá por bom tempo disponibilidade de recursos financeiros e tecnológicos para novos polos de crescimento da economia mundial. Além de financistas em excesso para a próxima década, há nos mercados globais mão de obra barata, crédito fácil e novas tecnologias disponíveis, com relativa escassez de recursos críticos na base e no topo das cadeias produtivas: recursos naturais e empreendedores. Se por um lado temos recursos naturais, por outro faltam-nos empreendedores. Graças ao mais longo programa de estabilização da História universal, o Brasil tem sido o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores. Às taxas de juros atuais, disponíveis para aplicações financeiras de liquidez imediata, um rentista americano tem de esperar meio século para ganhar o que um rentista brasileiro recebe em um ano.
E a inflação em alta é uma denúncia de que o Banco Central ainda não fez o bastante. Por que, então, tanta timidez
no anúncio de uma iniciativa acertada como o maior controle de gastos públicos pelo Ministério da Fazenda?
Fonte: O Globo, 29/08/2011
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