A Selic é a taxa de juros que o Banco Central (BC) usa para alcançar a meta de inflação. Caso não ocorra uma nova crise, ela pode ficar abaixo de 8% em poucos anos. Ainda será uma das mais elevadas do mundo, mas já foi pior. Chegou a mais de 40% na década de 90. No mês do impeachment de Dilma, a Selic estava em 14,25%.
Já vimos Selic abaixo de 8%, mas por razões erradas. Em 2012, Dilma determinou ao BC que baixasse a taxa de juros. O BC, submisso, pôs a Selic em 7,25%. Deu errado. Durou apenas sete meses. A inflação subiu, e o BC voltou a subir a Selic. Pagamos alto por isso.
Esse episódio mostra que baixar a Selic não é uma questão de vontade nem de pressões de fora. Muita gente acha que juros altos beneficiam bancos, mas quem diz isso não se dá ao trabalho de estudar o assunto de forma minimamente séria.
Metade dos títulos do Tesouro pertence a fundos de pensão, fundos de investimento e pessoas físicas. São eles que ganham com os juros altos. Os bancos detêm apenas 20% desses títulos e seus rendimentos representam relativamente pouco no lucro deles.
Na verdade, a elevada Selic se explica por razões estruturais. A principal delas é a segmentação do crédito. Metade do crédito tem a ver com operações do BNDES, crédito habitacional, crédito rural e outros. Qualquer que seja a Selic, os juros desses empréstimos, o chamado crédito direcionado, não se alteram.
A ação da taxa Selic sobre os preços depende de como ela se transmite ao crédito na economia, aumentando a taxa de juros para quem toma empréstimo em bancos. Isso afeta decisões de consumir e investir e, assim, reduz a demanda e a taxa de inflação.
Ora, se a Selic afeta apenas 50% do crédito, ela precisa, em tese, ser o dobro para ter o mesmo efeito na economia. Por isso, a potência da política monetária é diminuída pelo volume de crédito direcionado. Daí a importância da decisão recente do governo, de mudar a regra para a taxa de juros nas operações do BNDES, reduzindo o subsídio e aproximando-as gradualmente das taxas de mercado.
Há duas outras razões para o nível elevado da Selic. Uma é o baixo nível da poupança do Brasil, de menos de 14% do PIB. A média dos países emergentes é de 25% do PIB. A da China é de 48% do PIB. Se a oferta de recursos é menor diante da demanda, a taxa de juros tende a ser maior. A outra é situação fiscal. O medo de calote aumenta o risco de investir em títulos do Tesouro. Os investidores demandam, assim, juros mais elevados.
É possível sonhar com uma Selic semelhante à taxa de juros prevalecente hoje nos países com os quais nos comparamos, algo em torno de 5%. Isso depende de remover as barreiras estruturais que explicam a situação brasileira.
Consola saber que começamos a enfrentar esse problema com as reformas do governo de Michel Temer e com as novas regras para o crédito do BNDES.
Fonte: “Veja”, 19 de abril de 2017.
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