O mundo financeiro respirou mais aliviado com os anúncios de ontem. Da Europa, vieram decisões alentadoras. Os credores da Grécia aceitaram um corte de 50%. Por seu lado, os próprios bancos europeus mandaram aviso ao mercado de que sua recapitalização prescindirá de recurso novo dos investidores. (Dá para acreditar?)
E nos EUA, no terceiro trimestre, o pulso da economia bateu mais rápido do que a maioria desconfiava. O consumo subiu e os investimentos privados mais ainda, resultando num avanço de 2,5%, superior ao ritmo do trimestre anterior.
As cassandras teriam sido desmentidas. Saíram para lanchar. As bolsas subiram forte no mundo inteiro. O ânimo dos aplicadores saiu do vermelho e esverdeou com a subida íngreme do barril do petróleo, puxando outros minérios e commodities agrícolas.
Mas, então, a crise era só isso? Jean Claude Trichet, o banqueiro central do BCE responde: “Sem complacência, precisamos trabalhar duro!”. No estranho aviso, há um pedaço da resposta ao enigma dos tempos atuais.
Se houver um alto grau de coordenação entre os condutores da cena econômica, nos próximos meses, tanto em relação à manutenção do fiapo de confiança que ainda mantém o mercado atrelado aos seus papéis de dívida e de bolsa, e se essa confiança empurrar o arredio consumidor de volta às compras, afastando sinais de um novo afundamento da demanda, é bem plausível supor que o atual arranjo financeiro, anunciado anteontem por Merkel e Sarkozy, resgatará a Europa e os EUA da beirada do barranco de uma depressão de graves proporções.
O problema é atribuir uma probabilidade séria a esse evento futuro, que nos livraria do cenário pior. Um classificador de risco não poderia arriscar um palpite muito favorável sem incorrer, ele mesmo, no risco de trair o princípio básico da prudência.
O momento continua, esta é a pura verdade, absolutamente especulativo. O crédito bancário nos EUA e Europa permanecerá retraído por mais um bom tempo. Sem o empurrão dos bancos, as economias continuarão girando da mão para a boca.
Impossibilitados de cobrar aos devedores ruins, os bancos recorrem, nessas horas difíceis, justamente aos bons devedores, para fazer o contrário do que estariam ai para fazer: em vez de emprestar, querem tomar de volta.
Portanto, é essencial que a demanda seja estimulada de fora do sistema fechado que já emperrou. Isso significa que essa demanda deve vir dos países emergentes e, eventualmente, do déficit fiscal que os países mais fortes possam ainda tolerar sem fazer levantar as desconfianças dos investidores já desacorçoados.
Nesse cenário, onde a melhor das hipóteses é a manutenção da mediocridade nos EUA e União Europeia, ajudaria muito a consolidar a imagem do Brasil como economia madura e líder em seu grupo, se as projeções de nosso crescimento em 2012 pudessem superar a marca dos 3%.
No entanto, o avanço do PIB no próximo ano parece condenado a esta mediocridade, e a algo entre apenas 2 a 3%, no caso da indústria brasileira, muito pouco para um país que, até agora, só lucrou com a crise dos outros. Será que não somos capazes de algo melhor do que um comportamento de crise sem crise? Perdemos grande chance de tentar passos de gente grande.
Fonte: Brasil Econômico, 28/10/2011
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