Há poucos dias, a “Folha” divulgou seu ranking de universidades do país, o RUF, baseado em dados do Censo do Ensino Superior do Inep e de entrevistas com acadêmicos e empregadores. Usou cinco indicadores: pesquisa, ensino, mercado, inovação e internacionalização. Com base neles, assim como é feito por outras instituições no mundo, como o Times Higher Education ou o Shangai Jiao Tong University, a qualidade de cada universidade é comparada com as demais.
Ao ler o resultado, pareceu-me oportuno refletir sobre a contribuição da universidade para o desenvolvimento do Brasil. Afinal, para que um país cresça de forma integrada, a universidade surge como um caminho para formar cidadãos autônomos, tornar a nação mais independente no governo dos seus destinos, pronta para uma inserção competitiva no cenário internacional.
A função da universidade se torna particularmente importante num contexto de crescente automação de processos de trabalho, com empregos sendo eliminados e as competências demandadas pelo mercado de trabalho passando a ser as não rotineiras, cognitivas e interpessoais, muitas desenvolvidas pela educação superior.
A universidade no Brasil apresentou, nos últimos anos, importante avanço em acesso: o número de matrículas dobrou, por meio da expansão de vagas nas federais e de mecanismos como o Prouni e o Fies. Este avanço, ao contrário do que por vezes se imagina, é necessário, já que a proporção da população de 25 a 34 anos com nível universitário no país é de apenas 13%, pouco, se comparado com a OCDE, que conta com 39% em média. Além disso, parte das instituições participa de pesquisas relevantes em diferentes setores e mecanismos de controle de qualidade, como o Enade, agora censitário, foram fortalecidos em período recente.
Mas, infelizmente, ainda temos uma longa jornada a trilhar. Começam os problemas com a limitada competência acadêmica dos ingressantes no ensino superior e a falta de apetite das escolas em compensar a má formação vinda do ensino médio. Prosseguem com o isolamento de parte da universidade, que ainda se coloca numa torre de marfim, com um projeto próprio (e inatingível) de sociedade, recusando-se a contribuir com a atual. A reduzida permeabilidade de escolas a futuros empregadores de seus egressos ou a demandas da sociedade tem levado a sua captura por interesses pessoais ou corporativos ou a currículos irrelevantes e fragmentados. A não solução destes problemas nos leva a reproduzir um modelo de educação e de desenvolvimento científico elitista e divorciado das reais necessidades do país. É possível e preciso mudar este quadro. O Brasil certamente merece!
Fonte: Folha de S. Paulo, 23.09.2016.
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