*João Loyolla
Em um cenário de restrições fiscais e aumento das demandas sociais, os municípios brasileiros precisam buscar modelos de gestão mais eficientes, que reduzam o peso do Estado e ampliem o protagonismo da sociedade civil. As Parcerias Público-Privadas (PPPs) e os Termos de Cooperação surgem, nesse contexto, como instrumentos eficazes para otimizar recursos, fortalecer a economia local e elevar a qualidade dos serviços públicos sem ampliar o aparato estatal. Embora comumente associadas a grandes projetos de infraestrutura em capitais, as PPPs também podem e devem ser aplicadas de forma inteligente em cidades médias e pequenas, onde o capital humano e o senso de comunidade são ativos valiosos.
Em municípios de menor porte, o custo de manutenção de praças, parques, jardins e áreas de convivência pesa de forma desproporcional no orçamento público. A participação de empreendedores locais na adoção e revitalização desses espaços transforma uma despesa constante da prefeitura em uma oportunidade de cooperação cívica. Programas como “Adote uma Praça”, já bem-sucedidos em cidades como Belo Horizonte e Curitiba, demonstram que a união entre setor público e privado pode gerar resultados concretos, com praças limpas, bem cuidadas e frequentadas, sem comprometer os cofres municipais. Trata-se de uma prática liberal em sua essência, pois descentraliza o poder e permite que a iniciativa privada atue naquilo que faz melhor: gerir com eficiência.
A participação do empreendedor local é o elemento-chave dessa equação. Ele conhece a realidade da cidade, tem interesse direto no seu desenvolvimento e percebe que investir no espaço público é também investir em seu próprio negócio. Um comerciante que adota uma praça próxima, uma empresa que financia a iluminação de uma rotatória ou uma indústria que apoia a recuperação de uma área verde não estão apenas praticando filantropia, mas construindo um ambiente urbano mais seguro, atraente e economicamente dinâmico. Esse engajamento espontâneo cria uma cadeia de valor em torno da cidade, transformando o município em um verdadeiro ecossistema de cooperação e prosperidade.
O Instituto Millenium, em consonância com os princípios da liberdade econômica e da responsabilidade compartilhada, propõe o conceito de Áreas de Revitalização Compartilhada (ARCs). Esse modelo formaliza a cooperação entre o setor público e empresas privadas interessadas em investir na melhoria dos espaços urbanos, como praças, calçadas, canteiros e fachadas, mediante regras claras e seguras. As ARCs são, na prática, uma evolução do tradicional “adote uma praça”, pois criam um ambiente jurídico estável para que o empreendedor invista no bem público sem depender da burocracia estatal. Segundo o Millenium, essa proposta representa uma forma concreta de devolver à sociedade o poder de decisão sobre o uso e a estética dos espaços urbanos, aproximando a cidade de uma lógica de mercado, de meritocracia e de corresponsabilidade social.
Mais do que uma economia de gastos públicos, essas parcerias representam uma nova forma de pensar a relação entre Estado e cidadão. Em vez de um governo onipresente que tenta gerir todos os aspectos da vida urbana, surge um modelo descentralizado e colaborativo, no qual o setor privado, guiado pelo interesse legítimo de empreender e prosperar, contribui ativamente para o bem comum. Essa prática reforça a noção de que a liberdade econômica não se opõe à coletividade. Ao contrário, ela a fortalece, pois responsabiliza os indivíduos e empresas pelos resultados que ajudam a construir.
Do ponto de vista empresarial, participar de programas de adoção ou revitalização de espaços públicos é uma oportunidade estratégica. O empreendedor não apenas contribui para o desenvolvimento urbano, mas também fortalece sua marca, gera capital reputacional e demonstra responsabilidade social de forma genuína, sem depender de políticas públicas ou subsídios governamentais. Em cidades médias e pequenas, onde a relação entre empresa e comunidade é direta, essa aproximação reforça a confiança do consumidor local e amplia o senso de pertencimento à marca. Além disso, a melhoria do ambiente urbano impacta positivamente no fluxo de pessoas, na segurança e no valor imobiliário da região, criando um ciclo virtuoso em que o investimento privado retorna em forma de valorização econômica e fortalecimento institucional. Em essência, o empreendedor que participa da manutenção do bem público não apenas melhora o entorno, mas eleva o padrão de prosperidade da cidade que abriga o seu próprio negócio.
Ao permitir que empresas locais adotem praças, iluminem avenidas, revitalizem quadras e participem da manutenção da infraestrutura urbana, o município reduz a dependência da máquina pública e transforma o cidadão em protagonista. Essa lógica de “governo leve e sociedade forte” é o caminho mais sustentável para o desenvolvimento das pequenas e médias cidades brasileiras. Afinal, quando o poder público deixa de ser o único provedor e passa a ser um facilitador, abre-se espaço para que o verdadeiro motor da prosperidade, o empreendedor, lidere a construção de uma cidade mais livre, funcional e próspera.
*João Loyola é administrador, gestor de seguros, Pós-Graduado em Gestão Estratégia de Seguros pela ENS, é sócio sucessor da Atualiza Seguros, trabalha no programa Minas Livre para Crescer, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de MG, e é associado do IFL-BH