No oitavo dia da greve dos caminhoneiros, polarizada entre críticos e apoiadores, pelo menos um consenso surgiu entre os pré-candidatos à Presidência: postulantes dos mais diversos perfis ideológicos defendem que os preços praticados pela Petrobras nos combustíveis deixem de flutuar diariamente, como acontece hoje. A tarifa do diesel foi reduzida em R$ 0,46 por 60 dias, em uma tentativa do governo de atender às reivindicações e encerrar as manifestações. Depois deste prazo, o preço será revisado mensalmente, mas não houve mudança na política em vigor para a gasolina e o etanol.
“O Globo” enviou na segunda-feira as mesmas perguntas sobre o movimento grevista e a formulação do preço dos combustíveis para os nove principais pré-candidatos. Com pequenas diferenças de método na forma de aplicação, a alteração na política de preços foi defendida por nomes alinhados à esquerda, como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB), e à direita, casos do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Os ex-ministros Henrique Meirelles (PMDB) e Marina Silva (Rede), o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL), e o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) também se posicionaram contra as mudanças diárias no valor dos combustíveis. O pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi o único a não responder aos questionamentos da reportagem, mas já se posicionou sobre a greve e as tarifas implementadas pela Petrobras em outros momentos. Nesta segunda-feira à noite, ele postou mensagem no Twitter na qual “parabeniza os caminhoneiros pela luta justa”, mas pede “sabedoria para que tudo volte à normalidade”.
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Segundo cientistas políticos, a crise provocada pela greve dos caminhoneiros é desafiadora para os candidatos, que podem ser acusados de omissos caso não se manifestem. Ou desagradar uma parcela da sociedade a depender da opinião divulgada.
— Acredito que a população tende a ficar cansada do candidato que fala, mas não diz nada. Talvez, numa situação crítica como essa, seja melhor falar a verdade e ter um posicionamento contundente sobre o que pretende fazer para evitar que uma situação dessa volte a acontecer — analisa o cientista político Carlos Mello, do Insper.
MARINA (REDE)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Marina – A greve dos caminhoneiros é mais uma demonstração da insatisfação generalizada de milhões de brasileiros contra os serviços públicos precários.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Marina – Precisamos debater a infraestrutura logística, como a diversificação da matriz energética, o suporte adequado ao transporte rodoviário e modais alternativos.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Marina – A Petrobras definiu uma política de preços fora da realidade. Não é possível esse repasse automático ao trabalhador. O câmbio responde a conjunturas de curtíssimo prazo, e o preço dos combustíveis não pode seguir essa lógica. Há margem para absorver variações momentâneas do dólar, pois apenas uma parte do petróleo consumido no país é importada.
ALCKMIN (PSDB)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Alckmin – Todos os trabalhadores têm direito de manifestação, mas o direito de um termina onde começa o direito do outro. Nenhuma pauta, por mais justa que seja, pode parar o Brasil.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Alckmin – O primeiro caminho é sempre o diálogo. É preciso esgotar o diálogo até o último momento. E, no caso de intransigência, a aplicação da lei.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Alckmin – O ideal teria sido negociar com a Petrobras reajustes mensais, para garantir alguma previsibilidade aos consumidores de diesel. Além disso, em vez de zerar a alíquota do PIS-Cofins por 60 dias, que é uma solução provisória, teria sido melhor criar um colchão tributário, com alíquotas máxima e mínima que seriam adotadas em momentos de choque de preço.
BOLSONARO (PSL)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Bolsonaro não respondeu às perguntas do “Globo”. Na sexta-feira, em vídeo publicado nas redes sociais, ele parabenizou os caminhoneiros, mas pediu para não bloquearem estradas, tática adotada pelo movimento grevista.Em outro momento, ele disse que fechar rodovias era “extrapolar” e tornava a situação inegociável. Depois, amenizou o tom e defendeu a revogação de multas impostas a caminhoneiros.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Bolsonaro – Na semana passada, ele disse que “quem tem que dar solução é o governo”.
O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Bolsonaro – Em vídeo, ele afirmou que “acompanhar o preço internacional com minoria entrando (através de importações) aqui é mau-caratismo, no mínimo”.
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Em seu perfil no Twitter, ele parabenizou os caminhoneiros pela “luta justa”, mas pediu “sabedoria para que tudo volte à normalidade”.Na postagem anterior, ele afirmou que o “Governo de forma covarde trabalha para colocar na conta dos caminhoneiros a responsabilidade pelos futuros prejuízos causados pela paralisação”.
CIRO GOMES (PDT)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Ciro Gomes – Tenho alertado sobre a política de preços da Petrobras desde 2016. Era uma crise anunciada e a justa manifestação dos caminhoneiros é um reflexo dela. Lamento apenas que o custo esteja sendo pago pela população brasileira, que não tem culpa.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Ciro Gomes – Se eu fosse o presidente, não teria deixado as coisas chegarem a tal ponto. Primeiro, porque não adotaria esta política de preços. Segundo, porque manteria diálogo permanente com a sociedade, na qual estão os caminhoneiros.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Ciro Gomes – Uma política que fortaleça a Petrobras e que reverta em benefícios para a população. Jamais espetar nas costas dos caminhoneiros e do povo o desejo de lucro dos poucos acionistas minoritários.
ÁLVARO DIAS (PODEMOS)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Álvaro Dias – Fui favorável à greve dos caminhoneiros por entender que chegaram ao limite. O governo não teve a capacidade de se antecipar aos fatos e acabou obrigando os caminhoneiros à paralisação.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Álvaro Dias – Se fosse eu o presidente não chegaríamos a esse impasse, porque nos anteciparíamos aos fatos e evitaríamos a crise.
O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Álvaro Dias – Primeiramente revogaria o decreto do presidente Temer que autoriza a Petrobras a promover reajustes quase que diários em razão da flutuação do preço do petróleo internacionalmente. Países produtores praticam preços locais em defesa de sua população. A reforma tributária seria o mecanismo mais adequado para a redução de preços.
MANUELA D’AVILA (PCDOB)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Manuela D’Ávila – Nossa posição histórica sempre foi defesa das manifestações dos trabalhadores. A pauta dos caminhoneiros autônomos é justa.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Manuela D’Ávila – Não deixaríamos que a situação atingisse o ponto que atingiu porque haveria negociação prévia e mediação permanente.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Manuela D’Ávila – A estratégia é reativar o Plano de Investimentos da Petrobras para aumentar a produção e nos deixar menos dependentes da volatilidade do mercado externo. Minha proposta é aumentar os investimentos públicos em refinarias. No período de transição até o aumento do número de refinarias, nossa proposta é criar um Fundo de Compensação para dar sustentação em caso de volatilidade do preço do barril do petróleo.
RODRIGO MAIA (DEM)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Rodrigo Maia – A greve dos caminhoneiros é legítima, mas neste momento passou de todos os limites toleráveis: deixou de ser um movimento de reivindicação, legítimo no mundo das relações de trabalho, e se converteu num grande problema para todo o país. É inegável que houve uma escalada no preço dos combustíveis, isso impactou o diesel e se espalhou pela cadeia do sistema rodoviário de carga.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Rodrigo Maia – Maior previsibilidade nos preços do combustível e zerar Cide e Pis/Cofins do diesel.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Rodrigo Maia – Deveria existir um prazo de reajuste de 60 dias, no qual seria apurado o saldo e o ajuste se faria com a redução do PIS/Cofins. O melhor caminho é usar os impostos regulatórios.
GUILHERME BOULOS (PSOL)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Guilherme Boulos – A greve é um instrumento legítimo dos trabalhadores. É preciso separar o joio do trigo: de um lado, o legítimo protesto de caminhoneiros; de outro, donos de transportadoras barganhando isenções fiscais e oportunistas de extrema direita defendendo uma intervenção militar.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Guilherme Boulos – Não permitiria que a Petrobras praticasse essa política de desmonte que só atende aos interesses dos acionistas.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Guilherme Boulos – Empresa pública tem responsabilidade social. Se a Petrobras operasse com a capacidade total de refino e deixasse de exportar petróleo e importar derivados, a crise teria sido evitada, porque o preço não teria ficado refém das variações do dólar.
MEIRELLES (MDB)
O Globo – Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?
Meirelles – É inaceitável que, além dos problemas graves e reais dos preços do petróleo e derivados, haja um componente político-ideológico e empresarial nessa aliança de entidades politicamente engajadas com empresas transportadoras.
O Globo – Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?
Meirelles – Já foram tomadas medidas que enfrentam os problemas levantados pelos grevistas e, portanto, isso deve ser seguido pela aplicação da lei e da ordem.
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O Globo – Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?
Meirelles – Para trazer equilíbrio e reduzir a volatilidade do preço, é necessário criar espaço para um fundo de estabilização que absorva eventuais oscilações das cotações internacionais. Este fundo não deve ser deficitário. Ele pode ser capitalizado sempre que houver queda dos preços do petróleo.
Fonte: “O Globo”