De acordo com a Revista “The Economist” de 13 a 19 de junho de 2015, dos pouco mais de US$ 100 bilhões de perdas econômicas globais em 2014, quase a metade foi gerada por inundações, ciclones e outros desastres naturais na Ásia. Do total das perdas asiáticas, apenas 8% estavam segurados, contra 60% nos Estados Unidos.
O que a falta de seguros na Ásia tem a ver com o Brasil? O Brasil está alinhado na mesma trincheira. O país também tem um índice muito baixo de seguros para estes riscos. E se até hoje os tufões não são rotina na nossa realidade, os ciclones começam a aumentar de frequência e as tempestades de verão causam danos de bilhões de reais todos os anos.
E nós temos ainda outros danos de origem climática. Secas, granizo, geadas e ventos fortes custam fortunas para o agronegócio. Da mesma forma que as enchentes em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador cobram uma fatura absurda da população e do governo.
Não são apenas as capitais que sofrem com os eventos naturais que colocam o Brasil entre os dez países mais afetados pelos fenômenos de origem climática. Campinas, Blumenau, Joinville, Petrópolis, Santos, além de várias cidades e comunidades amazônicas, sentem regularmente o que isso quer dizer em termos de mortes e perdas patrimoniais e sentem no bolso o custo direto e indireto de sua ocorrência.
Não há nada que possa ser feito para controlar o clima. Seja lá pelas razões que for, a verdade é que estamos vivendo mudanças climáticas relativamente aceleradas e elas vão cobrar seu preço do ser humano.
Vale lembrar que há 10 mil anos grande parte da Europa estava coberta de gelo e que na década de 1940 o centro dos Estados Unidos foi varrido insistentemente durante anos por um vento que não dava tréguas aos moradores da região.
Quer dizer, o que está acontecendo já aconteceu antes e vai acontecer depois, com ou sem a ajuda do homem. Se estamos apressando o processo – e provavelmente estamos – isso não deixa de ser um fenômeno natural, causado pela existência e expansão de uma espécie que se sobrepôs às outras na ocupação do planeta.
[su_quote]Países altamente segurados conseguem superar as dificuldades causadas pelas catástrofes naturais com mais facilidade[/su_quote]
A verdade é que para o planeta o que está acontecendo tem pouca relevância. Ele vai continuar existindo, mais quente ou mais frio, mais ou menos assolado por eventos de origem natural. O problema é problema para o ser humano e outras espécies que podem ser ameaçadas pelo fenômeno.
Aí o seguro faz diferença. Países altamente segurados conseguem superar as dificuldades causadas pelas catástrofes naturais com mais facilidade do que as nações com poucos seguros.
Na medida em que há a transferência do pagamento de parte importante dos prejuízos para as seguradoras, o país continua com elevada capacidade de investimento, o que lhe permite minimizar o potencial de danos futuros, causados pelos eventos naturais, bem como manter os investimentos em novas fontes de riqueza e bem estar social.
Por que o Brasil tem a mesma situação dos países asiáticos, ou seja, baixíssima proteção de seguros? Pelas mesmas razões que eles. A saber, renda média anual baixa, pouca capacidade de poupança, pouca tradição de solidariedade social, um profundo desconhecimento do funcionamento do instituto do seguro e poucas apólices para este tipo de risco à disposição da população.
É vergonhoso comparar a realidade japonesa, depois do tsunami que varreu parte do país, com a situação da serra fluminense, atingida por chuvas torrenciais. Enquanto o Japão está praticamente reconstruído, na serra do Rio de Janeiro os trabalhos de reconstrução muitas vezes ainda nem começaram. Aliás, nem mesmo a ajuda emergencial foi seriamente entregue.
Ou nós começamos a mudar esta realidade ou ela ficará ano a ano mais triste.
Sem uma política governamental destinada a fazer frente ao problema e sem a transferência de parte das indenizações para as seguradoras o país não tem como minimizar os riscos sociais e a situação de extrema penúria de milhares de brasileiros atingidos pelos eventos de origem climática.
Fonte: O Estadão, 22/6/2015
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