Com o atual cenário econômico, especialmente com o aumento da inflação e a alta dos juros, que podem ser percebidos diretamente pela população, pode parecer muito difícil encontrar caminhos para a recuperação econômica.
Sabemos que também está longe de ser uma tarefa fácil, mas como explica a economista Zeina Latif, apesar de todos os desafios não estamos em um quadro em que “ninguém sabe por onde começar”, porque existe um diagnóstico sobre o que é necessário ser feito. Ouça o podcast!
O primeiro passo, para Zeina Latif, é separar as questões de curto das de longo prazo, porque quando elas se misturam, temos como consequência o baixo crescimento apresentado nos últimos tempos.
“No curto prazo o ideal seria que estivéssemos fazendo contenção dos gastos, de forma mais contundente, sinalizando quais as etapas que serão seguidas para resolver os rombos orçamentários, dar previsibilidade para investidores e, aí sim, ajudar o trabalho do Banco Central a controlar a inflação. Porque essa desarrumação do lado fiscal é um fator chave para pressionar a taxa de câmbio e obviamente a inflação”, destacou.
Questões como custo Brasil, melhora no ambiente de negócios e as reformas estruturais, consideradas fundamentais para o crescimento econômico, são discussões de longo prazo e, como aponta a economista, exigem um esforço político maior.
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“No segundo semestre de 2019, depois que a Câmara dos Deputados aprovou a reforma da previdência, estava em tramitação uma proposta de criação de um imposto sobre o valor agregado. Era uma proposta muito boa e tinha-se disposição da casa em aprovar. Lamentavelmente, o governo não quis abraçar aquela proposta e perdeu-se um timing importante, porque essas reformas mais ambiciosas, que mexem com muitos setores da economia, são mais fáceis no início de governo, quando o Presidente tem capital político”, explicou.
Atualmente, tramitam no Congresso Nacional alguns projetos de reforma tributária, e também a proposta de reforma administrativa, mas além da baixa probabilidade de aprovação, a efetividade dos textos apresentados tem sido questionada.
“O Brasil está num momento em que é necessário resgatar o compromisso com a disciplina fiscal, então fazer uma reforma administrativa que não tem nenhum impacto de curto prazo, ou praticamente negligente, não é uma boa notícia. (…) Porque uma coisa é conseguir fazer a reforma, e outra é a garantia de que a reforma feita realmente deu passos importantes. Essa ideia de ‘um pouquinho que caminhe já é bom’, nem sempre é verdade, ainda mais se tratando de Constituição, e podendo dificultar muito mais ajustes lá na frente”, ponderou.
Nesse sentido, com as eleições se aproximando, as expectativas são que as reformas só sejam possíveis no próximo governo, e Zeina Latif acredita que a discussão econômica deve ser um dos principais temas do debate eleitoral.
“Apesar dos temas que ainda são espinhosos, nós temos um avanço importante do debate econômico no Brasil, claro, ainda carece de maior profundidade e amadurecimento, mas existem alguns pontos que tornam possíveis traçar elementos básicos de ação. A ideia, por exemplo, de reforma do Estado, de uma revisão de políticas públicas, de termos mais eficiência na máquina pública, são temas que na minha visão são inevitáveis”, comentou.
Além das pautas de reformas, que ajudarão na melhoria da ação estatal, é preciso agir para reduzir a insegurança jurídica e, dessa forma, possibilitar o aumento do investimento privado.
“No Brasil as regras do jogo de várias naturezas mudam com frequência, sem critério, por vezes com efeitos retroativos, que inibem muito o investimento produtivo, principalmente na infraestrutura”, disse.
Outra questão fundamental para apoiarmos a retomada econômica é o investimento em educação, especialmente neste momento, já que como afirmou a economista, “a pandemia aumentou algo que era urgente”.
“Essa agenda da educação é prioritária, ainda mais depois da pandemia, que sacrificou gerações. E além do sacrifício, porque o Brasil é um dos países que mais tempo ficou com escolas fechadas, as necessidades e as informações que vieram antecipando o uso de tecnologias digitais e de automação, aumentaram o fosso entre a nossa mão de obra e as necessidades do mercado de trabalho”, ressaltou.
Para Zeina Latif, o necessário para o Brasil nos próximos anos é uma gestão de políticas econômicas mais cuidadosa, ancorada em bons resultados, isto é, feita pensando no benefício da sociedade e também no crescimento sustentável da economia.
“Precisamos analisar o custo das políticas econômicas e, certamente, fazê-las caber no orçamento, para que não tenhamos sempre essa volta da inflação, chateando, adiando reformas e trazendo sofrimento”, concluiu.