Em uma democracia o esperado é que existam diversas vozes coexistindo e, mediante ao debate, encontrem as melhores soluções para os problemas da sociedade. Porém, desde 2014, o Brasil vive em constante cenário de polarização política, no qual apenas os sons de extremos parecem ser ouvidos.
Talvez por isso, as manifestações do último dia 12 tenham chamado tanta atenção. Primeiro pela temática em prol do fortalecimento democrático, e principalmente pela ampla adesão de diferentes agentes políticos, que não costumam estar “do mesmo lado”.
A especialista em Relações Públicas e Comunicação Contemporânea, Nara Borges, explica que os atos ocorridos em diversas cidades brasileiras devem ser analisados pelo que eles representam, e não pela quantidade de participantes, já que existem inúmeros motivos para a população não ir às ruas nesse momento, como a pandemia e a própria desilusão política. Ouça o podcast!
“Eu estive presente e fiquei muito feliz de ver as diferentes ideologias se respeitando e em busca de opções fora da polarização. Até há um tempo, era inadmissível, por exemplo, os deputados estaduais Arthur Do Val (PATRI/SP) e Isa Penna (PSOL/SP) em cima do mesmo carro, por um mesmo objetivo. Isso é a democracia, as pessoas conversarem e se respeitarem”, contou.
A união de diferentes agentes políticos por uma causa em comum, não anula os interesses políticos individuais de cada um, mas como destaca Nara Borges, essa movimentação é muito importante para dar um recado à sociedade de que não é necessário ficar refém de polos extremos, já que existem outras opções de lideranças representativas e competitivas.
“Eu acredito muito na liderança pelo exemplo, e toda essa união desses agentes políticos, agora em busca de novas opções, serve como um bom exemplo da preocupação em mudar o que temos vivido nas últimas eleições”, afirmou.
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Nara Borges também chama atenção para o fato de que para surtir o efeito desejado, é necessário que essa união “se mantenha firme e não se desgaste até as próximas eleições, porque do contrário a sociedade vai, novamente, descredibilizar toda essa movimentação que começou há alguns meses, entre mandatários, ex-mandatários, ex-presidenciáveis e agentes de influência na política”.
O uso do medo
Duas emoções muito usadas em campanhas políticas são a esperança e o medo. A primeira é comumente utilizada por novos candidatos que buscam inspirar a fé em dias melhores. Já a segunda, costuma estar presente em narrativas de candidatos buscando a reeleição, que ao contrário dos novos, procuram estimular o medo do desconhecido.
Com a pandemia e todas as incertezas que ela trouxe, há um ambiente propício para o uso do medo como ferramenta eleitoral, já que ele favorece a polarização. “Quando temos medo ficamos reféns de um salvador da pátria, e buscamos quem supra esse sentimento e nos proteja. A polarização política serve para isso, se trata de um jogo para disputar quem é o salvador da pátria e quem é o vilão. Assim a sociedade fica perdida e acaba tomando uma posição por medo, não por consciência” destaca a especialista.
E decisões baseadas em emoções, e não no uso da razão, trazem resultados imprevisíveis para todos os setores da sociedade, incluindo para as instituições . “A democracia exige diálogo, ponderação, busca pela melhor ideia, que chegam a partir das diferentes ideias. Quando caímos na armadilha dos extremos, o lado que vence, acaba exercendo o poder de uma forma muito mais austera do que alguém eleito pela democracia. E nas formas de poder mais austera, quem luta pela democracia, o lado mais moderado, acaba ficando de fora do jogo”, explicou.
Os extremos não são bons
Aprendemos com a natureza que os extremos costumam ser inóspitos, apresentando temperaturas muito baixas ou ar rarefeito, por exemplo. Na política não é diferente, o extremismo gera péssimas condições de sobrevivência e desenvolvimento, como a fome e a pobreza.
De acordo com Nara Borges, para evitar esse cenário em 2022 é preciso votar com consciência. “Precisamos agora de pessoas com discursos mais moderados, mais propositivos e palpáveis. Precisamos discernir o discurso populista do discurso palpável, realizável e que vai fazer com que o Brasil avance, se modernize, com oportunidades”, concluiu.
+ Quais os principais desafios para o surgimento de novas lideranças políticas?
Sabemos que é difícil não se deixar levar pelas emoções em períodos de crise, mas é justamente neles em que mais precisamos ser racionais, e tomar decisões que nos ajudem a superar os desafios.
Por isso, aqui no Instituto Millenium sempre reforçamos a importância da vigilância. Se informe por diversas fontes, procure saber das propostas dos seus candidatos e do trabalho dos seus atuais representantes. A política brasileira não é feita apenas de escândalos ou de um ou dois nomes, existem muitas opções técnicas e qualificadas dispostas a servir. Não se deixe levar pelo medo ou pela frustração, construir um Brasil melhor depende de cada um de nós.