Toda economia que conseguiu atingir um nível razoável de desenvolvimento viu surgir um boom em serviços. Faz parte desse processo passar de uma dependência cada vez menor da indústria e maior do dinamismo desse segmento que, aliás, compõe mais de 60% do PIB.
Diversos segmentos começaram a se desenvolver, como os de saúde, cultura e telecomunicações.
No caso de saúde, o envelhecimento da população tem trazido uma nova visão de serviços para essa parcela da população, bem como tem havido um crescimento da própria oferta de hospitais e serviços laboratoriais. Grandes cadeias estão se formando, o que permite maior poder de fogo para crescimento.
Na cultura, de certa forma atrelada às telecomunicações, vê-se aumento de investimentos das TVs brasileiras e associações com produtoras de cinema e toda a discussão sobre se a abertura do setor para o investimento estrangeiro poderá ampliar ainda mais a expansão desses segmentos em conjunto.
A própria intermediação financeira também tem se aprimorado pelo crescimento do mercado secundário, tão necessário para a ampliação do mercado imobiliário. Esse dinamismo é o que segurou o PIB em 2009 e o fará novamente agora em 2011 e 2012.
Parte desse crescimento e da própria demanda que surgiu tem levado à maior pressão de preços também. Esses setores geralmente têm produtividade menor do que a indústria por justamente não sofrerem competição externa.
Mas há um novo vício por parte do governo em tentar explicar a variação dos preços de serviços apenas pelo dinamismo da classe média brasileira, que aumentou seu padrão recente de consumo.
Ao longo dos últimos anos tivemos três ciclos claros de evolução dos preços de serviços. O primeiro se deu até a crise cambial de 99, quando tanto o IPCA quanto serviços caíram sistematicamente. A partir daí tivemos o choque cambial afetando o IPCA e por consequência os serviços.
Aqui vale notar que os testes econométricos mostram uma antecedência entre esses preços e o IPCA, ou seja, o IPCA sobe e depois ocorre o mesmo nos preços dos serviços, dando um pouco de ideia da inércia por trás desse indicador.
A partir de 2003, houve um processo desinflacionário que perdurou até 2006, levando ao mesmo comportamento de serviços. Mas nota-se que o comportamento é assimétrico. Há facilidade para subir, mas dificuldade para diminuir de ritmo. A partir de 2006 novamente vemos o ciclo de alta do IPCA e a consequente elevação dos serviços.
Esse novo ciclo inflacionário de fato pode ter um impacto adicional da mudança estrutural da classe média pelo ritmo mais rápido que o próprio IPCA. Para um crescimento do índice geral de 7,3% os serviços estão crescendo a 9%.
Mesmo assim, talvez precisássemos de um grande período de desinflação para conseguir convergir esses preços para números mais baixos, algo que provavelmente não acontecerá no curto prazo.
Muito além do discurso estrutural, há uma inércia nesses preços que coloca em risco a capacidade de manter o IPCA próximo da meta nos próximos anos.
Fonte: Brasil Econômico, 24/10/2011
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