À primeira vista, parecem conceitos simplistas, mas, na realidade, são absolutamente complexos. Ter humildade significa saber ouvir e continuar aprendendo sempre, ou seja, estar continuamente atento ao mundo ao seu redor. Os campeões de uma causa só são vencedores porque têm humildade e disciplina. Ou alguém imagina que uma medalha olímpica ou uma descoberta científica possam ser conquistadas sem isso?
Esta semana, durante a cerimônia de premiação da American Society for Quality (ASQ), realizada nos Estados Unidos, busquei demonstrar que esses dois conceitos se aplicam para qualquer outro desafio, como a melhoria da gestão pública no Brasil, um de nossos principais entraves ao desenvolvimento sustentado.
Ser o primeiro latino-americano a receber a Medalha Juran, conferida pela American Society for Quality, em razão da minha trajetória de 30 anos na defesa da gestão pela qualidade, é uma grande satisfação. Entretanto, esse reconhecimento deve ser compartilhado com as milhares de pessoas que trabalham pela difusão dos conceitos da qualidade nos mais distintos segmentos da sociedade, principalmente no Rio Grande do Sul e no Brasil. São empresários, governantes, entidades da sociedade civil e voluntários que acreditam que o desenvolvimento passa, necessariamente, pela melhoria da qualidade da gestão privada e, especialmente, da gestão pública e do terceiro setor.
Somente no Rio Grande do Sul, o Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) conta com a participação de 1,3 milhão de pessoas, quase 9 mil organizações nos três setores e uma rede de 79 comitês. Além disso, temos 15 mil multiplicadores dos conceitos da qualidade no Rio Grande do Sul, que trabalham de forma voluntária. Esses números são um exemplo evidente da revolução gerencial que já estamos vivendo.
Em nível nacional, o movimento pela qualidade também tem obtido destaque, especialmente por meio do Movimento Brasil Competitivo, que conta com o apoio de mais de cem empresas. Um exemplo disso é o Programa Modernizando a Gestão Pública (PMGP), cujos resultados são impressionantes. Para cada R$ 1 investido, temos contabilizado um retorno de R$ 191. Isso significa que os ganhos dos 10 Estados e sete municípios brasileiros beneficiados por esse programa chegam, considerando os cinco anos de trabalho, a uma eficiência anual de mais de R$ 12 bilhões.
Na esfera pública, buscam-se, portanto, melhorias em custos e receitas, sem aumentar impostos, aprimorando a gestão na área da educação, saúde e segurança pública. Ou seja, procuramos viabilizar que os governos façam mais com menos, com mais qualidade e eficiência.
Não há dúvida de que a caminhada pela melhoria da qualidade ainda é longa, pois a mudança de cultura requer um trabalho minucioso e contínuo, com muitas décadas de dedicação. Porém, para atingir um novo patamar de gestão pela qualidade, é preciso ter lideranças capacitadas e motivadas e acesso ao conhecimento e à metodologia adequada, fundamentais para mobilizar as pessoas.
Somente com a mobilização da sociedade brasileira é que conseguiremos construir um processo sustentável, para aumentar o nível de poupança e investimento no Brasil, melhorar a qualidade da educação e da saúde e gerar empregos. As tecnologias de gestão podem gerar benefícios imensos para a sociedade. Fazer isso acontecer é uma responsabilidade de todos nós.
Diante dessa possibilidade de revolução construtiva, também acredito que podemos sonhar com um mundo melhor não só no Brasil, onde o trabalho de aprimoramento da gestão pública já teve início, mas também nos demais países da América Latina, cujas necessidades e desafios também são gigantescos.
Mas, para isso, além de mobilização, é preciso sempre retornar aos conceitos que devem mover a humanidade: humildade e disciplina. Sem isso, não se chega a lugar algum.
(“Zero Hora” – 29/05/2010)
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