Recente matéria publicada pelo “O Estado de São Paulo” dá notícia de que 1/3 da população brasileira já foi vítima de crime. É número para ninguém colocar defeito, ainda que se considere apenas os últimos 12 meses, quando o número cai para 1/ 5. Em números absolutos, estamos falando de mais de 40 milhões de pessoas, ou algo equivalente à população da Espanha, o que é apavorante.
Tão grave quanto o medo que ronda permanentemente a população é o descrédito nas autoridades ou na punição dos criminosos, o que faz com que provavelmente o índice seja pior, já que boa parte das vítimas não informa a violência de que foi vítima.
Outro aspecto importante e que tem impacto direto na atividade seguradora é o custo do crime para o país. Um assassinato não é apenas tirar a vida de uma pessoa. Há toda uma cadeia de consequências que se inicia com os custos diretos da morte, representado basicamente pelo enterro da vítima, e que se estende para os custos indiretos, como a falta de condições de vida dignas para a família, além dos custos psicológicos e os gastos com pensões e assistência social a serem suportados pelo governo.
Os crimes de morte impactam a sociedade de forma avassaladora, mas, como atingimos o patamar de 50 mil assassinatos todos os anos, nos parece normal que esta rotina trágica seja parte da vida. É uma distorção que faz com que a maior parte dos crimes não tenha espaço na imprensa, nem sensibilize o cidadão, até o momento em que ele é direta ou indiretamente atingido pela morte de um ente querido.
Mas existe toda uma série de crimes que não matam. A maioria dos roubos e furtos não termina em latrocínio, ainda que este crime esteja entre os que mais cresceram no Estado de São Paulo. São eles que têm maior impacto econômico e afetam diretamente o preço dos seguros. Começando pelos seguros de veículos, a quantidade de seguros de automóveis indenizados todos os anos em função de furtos e roubos faria das seguradoras a quarta maior montadora do país. São mais de 400 mil veículos. A um preço médio de R$ 30 mil por carro, o total das indenizações salta para R$ 12 bilhões por ano.
Os seguros residenciais e empresariais também são afetados pelos furtos e roubos. A situação é dramática no seguro de transporte terrestre de mercadorias. A sinistralidade é tão elevada que, ao contrário do que ocorria até vinte anos atrás, a maioria das seguradoras não se interessa em trabalhar com este tipo de risco. Os assaltos a bancos e caixas eletrônicos estão nas páginas dos jornais quase que diariamente. E como se tornaram rotina, sequer aparecem com destaque. Precisa ser uma ação espetacular para dar na primeira página.
Assaltos a residências são rotina faz tempo e o quadro se agrava nesta época do ano, quando as férias fazem com que milhares de imóveis fiquem mais vazios e outros tantos recebam turistas prontos para serem assaltados. Nas empresas o cenário de desalento é o mesmo. Roubos e furtos de mercadorias, matérias-primas e valores acontecem como se fizessem parte da rotina, tanto que, se não forem acompanhados de atos de violência, são encarados como contratempos inerentes ao negócio.
Furtos de fios e lâmpadas deixam monumentos no escuro. Furtos e roubos apavoram os agricultores. Furtos e roubos encarecem as operações dos armazéns e depósitos. Furtos e roubos deixam com medo motoristas e cobradores de ônibus, funcionários do comércio, os pedestres e os motoristas que dirigem pelo país.
O duro é que não há nada indicando uma mudança de cenário. Pelo contrário, leis ruins, sentenças equivocadas e sistemas de progressão de penas favoráveis aos bandidos, somadas a polícias despreparadas, mal treinadas e mal equipadas agravam vertiginosamente o quadro.
Diante da quase impunidade ou da certeza da pena leve, a tendência é os números continuarem ruins. Como número anual de assassinatos se equiparando ao total de mortos norte-americanos na Guerra do Vietnã, não há o que fazer para baratear os seguros de vida. E a regra vale para todos os outros tipos de crimes.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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