Em junho deste ano, a prévia da inflação anualizada divulgada pelo IPCA-15 foi de 12,04%, somando 10 meses seguidos com números acima de dois dígitos. Uma pesquisa publicada por um jornal de grande circulação em maio de 2022 já mostra os efeitos desse cenário na projeção eleitoral e merece a atenção daqueles que se preocupam com a estabilidade da economia brasileira. Cerca de 30% dos eleitores afirmaram que o aumento da inflação terá impacto na sua decisão de voto nas eleições deste ano, quando o recorte são os jovens, esse percentual sobe para 51% dos entrevistados. Algo que parece ser óbvio se torna crucial quando ventilado. Isso porque o jogo eleitoral é um jogo de sinalização e a vontade dos eleitores, quando vocalizada tem o potencial de impactar o programa dos candidatos, seus discursos, seus compromissos e até suas ações.
Inflação e aumento de preços são itens que nem sempre têm destaque nas promessas de campanha, especialmente desde que o Plano Real trouxe de volta a estabilidade econômica ao Brasil a partir de 1994. Desde então, propostas relacionadas ao crescimento e à distribuição de renda tem tomado espaço no discurso dos candidatos, pois com uma economia estável pode-se prometer investimentos de longo prazo e ampliação de programas sociais.
No entanto, os indicadores de inflação no Brasil e no mundo sugerem que a estabilidade econômica deve voltar a ser uma preocupação do mundo pós-pandemia, especialmente por conta dos preços de combustíveis fósseis que tem sofrido a maior alta desde a década de 1970. Vale lembrar que estes aumentos gerados pelas crises do petróleo de 1972 e 1979 desencadearam no Brasil a chamada “Década Perdida” que trouxe moratória da dívida e hiperinflação.
Para se somar aos problemas nas cadeias de suprimentos que afetaram o preço dos barris de petróleo, há um necessário e vital compromisso com o baixo carbono refletido na importância dos investimentos sustentáveis (identificados internacionalmente com a sigla ESG). A adequação para a sustentabilidade tem entrado em conflito direto, apesar de discreto, com a estabilidade de preços. A medida em que surgem novas despesas para a viabilização de uma economia de baixo carbono, os custos da produção de combustíveis sobem e refletem em todo a economia, gerando aumento de preços em geral.
Especialmente em um momento no qual o compromisso ESG e a inquietação com a insegurança alimentar vêm aumentando, a preocupação do brasileiro com o combate à inflação gera um contrapeso à tendência de campanhas simplificarem seus programas e desconsiderarem o compromisso que qualquer governo eleito precisará ter com o controle gastos e a responsabilidade fiscal.
Com tudo isso, resta saber se os candidatos irão acolher este aviso de que o brasileiro se lembra do caos gerado pelo descontrole dos preços. Caso não passe desapercebido, podemos esperar um amadurecimento inédito e necessário do processo eleitoral. Inédito por ser a primeira vez que a ameaça inflacionária volta a bater de forma tão dramática na porta da democracia brasileira, aparecendo até em pesquisas de intenção de votos. Necessário por deixar claro aos candidatos que os eleitores entendem que demandas sociais e ambientais não estão descoladas da perspectiva de controlar a variação de preços.