Cheguei há poucos dias de Genebra, onde participei da reunião final para elaborar o relatório da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da OIT.
Foi cerca de um ano de trabalho, com reuniões presenciais e virtuais, discussões por áreas temáticas com pesquisadores e, sobretudo, muita aprendizagem. Afinal, na vida, as tarefas mais ricas são as que mais nos fazem aprender.
A composição da comissão possibilita uma pluralidade de perspectivas: há especialistas em diferentes áreas ligadas ao mundo do trabalho, de várias partes do mundo, além de representantes de governos e dirigentes de organizações tanto de trabalhadores como de empregadores, num total de 28 membros. Entre eles, uma participante de organização de mulheres árabes, um assessor da União Africana oriundo de Guiné Bissau e uma trabalhadora rural indiana, com uma visão clara dos desafios do setor informal; coordenando os trabalhos, o presidente da África do Sul e o primeiro-ministro da Suécia.
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O mais interessante é o tema central do relatório, o futuro do trabalho.
Com o advento da chamada indústria 4.0, traduzida em avanços da inteligência artificial, da internet das coisas e da biogenética, mudanças importantes no mundo do trabalho devem ocorrer, com a possibilidade de extinção acelerada de postos de trabalho e aumento da desigualdade, como bem mostra Martin Ford, em “The Rise of the Robots”.
O futuro, no entanto, trará também possibilidades positivas, como a redução, por meio da automação, de trabalho degradante, a disponibilidade de recursos mais avançados para a educação e saúde ou a melhoria geral de condições de vida para a população que, em muitos países, está envelhecendo.
Neste sentido, foram discutidos o conceito de “sociedade ativa ao longo da vida” —a possibilidade de se manter as pessoas com atividades significativas mesmo na velhice, se assim desejarem— e a economia de plataforma, que poderia levar tanto à precarização de contratos como, por outro lado, à geração de mais postos de trabalho, o que é importante para os países desenvolvidos.
Para os países em desenvolvimento, o futuro do trabalho deveria significar formalização e melhoria das condições de trabalho, o que demandará, para acontecer, de ação concertada da sociedade internacional.
Meu papel na comissão foi o de refletir sobre o que deve ser feito em educação para garantir que a nova geração esteja pronta para esses desafios e os trabalhadores possam adquirir as competências para navegar em tempos incertos.
Em qualquer circunstância, todos precisarão aprender a se reinventar, a resolver problemas que demandarão soluções novas e criativas.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 23/11/2018