O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, divulgou uma carta aberta ao Ministro da Economia, Paulo Guedes, na qual explica as principais razões para o Brasil não ter cumprido a meta para a inflação em 2021. Segundo Campos Neto, as principais razões foram um aumento no preço das commodities, a bandeira de energia elétrica mais cara por causa da crise hídrica e falta de chuvas e os desarranjos das cadeias econômicas globais, que levaram a desequilíbrios entre oferta e demanda. “De fato, a aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes”, escreveu Campos Neto no documento. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal medida utilizada para a inflação, encerrou o ano passado com 10,06% de aumento, muito acima dos 3,75% estipulados pelo Conselho Monetário Nacional (CNM) para o centro da meta e dos 5,25% para o teto da meta. Para 2022, o Banco Central se manteve otimista de que a meta de que a inflação ficará em cerca de 4,7%, abaixo do teto da meta de 5%, com o aumento na taxa de juros Selic.
Esta foi a sexta ocasião que o chefe da autarquia precisa redigir este tipo de texto e a primeira com o BC independente. A última vez que a inflação ficou fora dos limites foi em 2017. Naquele ano, porém, o então presidente, Ilan Goldfajn, precisou se justificar ao ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, as razões de o IPCA ter ficado em 2,95%, abaixo do piso da meta de 4,5% (margem de 3% e 6%). Em todas as outras oportunidades, os presidentes do BC precisaram explicar as razões de a inflação ter estourado o teto. A primeira carta foi publicada em 2001 pelo presidente Armínio Fraga. Em 2002 e 2003 foi a vez de Meirelles se justificar, enquanto em 2015 o documento foi assinado por Nelson Barbosa.
Campos Neto indicou que deve manter a escalada e elevar os juros para próximo de 11,75% ao longo de 2022. Na carta aberta, o presidente do BC afirmou que Comitê de Política Monetária (Copom) antevê um aumento na mesma magnitude do último, de 1,5%. O patamar, no entanto, não é confirmado. Em diversas oportunidades, o chefe da autarquia monetária disse que vai levar a taxa até onde for necessário para trazer as expectativas para o centro da meta. A fala é justificada pela manutenção das previsões inflacionárias acima do limite perseguido pelo BC em 2022. O mercado financeiro estima o IPCA a 5,03% ao fim deste ano, mais uma vez ultrapassando o centro de 3,5% perseguido pela autoridade monetária, com limites entre 2% e 5%.
Fonte: “Jovem Pan”, 12/01/2022
Foto: Wallace Martins/Estadão Conteúdo