*Leticia Moreto
No primeiro semestre de 2025, os Correios acumulam prejuízo de cerca de R$ 4,4 bilhões, valor que já supera o déficit registrado em todo o ano de 2024. Esse rombo histórico é um retrato claro de como a falta de eficiência pode corroer o valor de uma empresa ao longo do tempo. O processo de tentativa de privatização, discutido em diferentes governos, nunca avançou de forma efetiva. Agora, anos depois, a estatal enfrenta um cenário de queda expressiva de faturamento e rombos bilionários em seus caixas, levantando uma questão inevitável: até que ponto manter a estrutura atual é financeiramente sustentável?
Sob a ótica das finanças, a situação dos Correios pode ser analisada de maneira objetiva. O fluxo de receitas tem caído progressivamente diante da transformação digital e da concorrência crescente de empresas privadas de logística. A receita líquida encolhe enquanto as despesas fixas, principalmente folha de pagamento e encargos trabalhistas, permanecem inalteradas. O resultado é um desequilíbrio entre receita operacional líquida (ROL) e custo fixo total (CFT), que leva a déficits recorrentes.
Nos últimos anos, sucessivos relatórios financeiros da companhia revelam margens cada vez menores e pressões de caixa. Além da perda de relevância no setor postal tradicional, os investimentos necessários para competir no mercado de logística moderno, com rastreabilidade em tempo real, entregas rápidas e tecnologia integrada, não acompanharam o ritmo da concorrência. Sem capital suficiente para investir, a empresa entrou em um ciclo de subinvestimento que compromete ainda mais sua competitividade.
O endividamento também se tornou uma preocupação. Embora a estatal conte com apoio do Tesouro, parte significativa de seu resultado já é comprometida com custos financeiros e provisionamentos. Na prática, isso significa que a deterioração patrimonial da empresa se converte em risco fiscal para a sociedade. Quanto maior o rombo, maior a probabilidade de que recursos públicos sejam destinados a cobrir prejuízos. Em termos contábeis, o problema não está apenas na queda de faturamento, mas também no efeito da provisão para contingências trabalhistas e previdenciárias, que tem pressionado ainda mais o passivo.
O que se observa nos Correios é a clássica situação de descasamento entre receitas e despesas, onde a estrutura de custos se mantém rígida enquanto a receita sofre pressão estrutural. Em cenários assim, há três saídas possíveis: aumentar receitas, reduzir custos ou captar recursos externos. Aumentar receitas em um mercado competitivo é improvável sem pesados investimentos. Reduzir custos em uma estatal com folha engessada é um desafio político e social de grande escala. Resta a alternativa de capitalização via privatização, permitindo que investimentos privados reestruturem o modelo de negócio.
Do ponto de vista financeiro, privatizar não é apenas uma questão de preferência política, mas de sustentabilidade econômica. Empresas com rombos crescentes e queda de faturamento inevitavelmente transferem seus prejuízos à sociedade, seja via impostos mais altos, seja via serviços públicos de menor qualidade em outras áreas.
Portanto, os Correios ilustram um verdadeiro case de fracasso, quanto mais tempo se demora para decidir pela reestruturação do negócio, seja via privatização, concessão ou abertura de capital, maior o custo social e financeiro. Em última instância, sem medidas estruturais, a conta sempre chega. E quem paga somos nós, a população.