Por Adriano Pires e Abel Holtz
Em muitas das declarações sobre o encontro Rio+20, percebemos um desejo de muitos atores em colocar suas ideias e percepções bem-intencionadas, sem dúvida, a ponto de serem ingênuas por não considerarem a realidade dada pelo crescente aumento populacional, o desejo de melhorias na condição social dos povos e o alinhamento destes com a modernidade dada pelas informações obtidas na internet e com as mordomias nos mesmos padrões que existem nos países desenvolvidos.
Todos esses aspectos, queiramos ou não, implicam o aumento do consumo de energia no nosso planeta, mesmo que os governos tenham o cuidado de elaborar políticas voltadas para o aumento da eficiência energética, visando a otimizar o uso e diminuir o consumo final da energia. Alguns cientistas e ONGs têm feito grande alerta, chamando a atenção para o fato de que, se os Brics quiserem ter os mesmos padrões de consumo de energia que os países desenvolvidos têm hoje, iríamos precisar de mais 4 planetas. Já outros vaticinam que dentro de 20 anos não haverá água potável para toda a população da Terra e com isso haverá falta de alimentos. Ou seja, a água será o recurso natural mais escasso e caro que teremos no futuro.
No contexto de energia e água escassas e caras, outros especialistas mencionam que o regime pluviométrico da Amazônia brasileira será totalmente diverso daquele conhecido atualmente – podendo haver momentos de grandes afluências e outros de seca. Isso nos leva a pensar que, à primeira vista, deveríamos fazer nossas hidrelétricas com reservatórios para a produção de energia elétrica e enfrentar a diversidade que se preconiza, até mesmo, e quem sabe, principalmente, para armazenar a água doce.
O curioso é que, em vez de discutirmos com profundidade e seriedade a pertinência de construir usinas hidrelétricas a fio de água, usinas essas que nos obrigam a abrir mão de energia barata e ao mesmo tempo desperdiçam água doce, ficamos presos a um debate sobre o novo Código Florestal e sobre os artigos que foram vetados pela presidente. É curioso, também, que nos deixamos pautar pelas ONGs internacionais e com isso ficamos reféns de temas como a demarcação de terras indígenas; depois será a vez dos quilombolas e assim vai ser durante a Rio+20, com a repercussão desejada por aqueles que querem que nosso país seja monitorado por um órgão supranacional que definirá regras para preservação ambiental.
Ninguém consegue, com precisão, modelar o futuro do clima e seus impactos no meio ambiente, até porque o nosso planeta é um astro do sistema solar e, como o universo se expande, muitas das variáveis sobre o clima derivam dessa realidade. Por isso, no campo da energia, não podemos nem devemos abrir mão das riquezas naturais do país em função de pressões externas. Do ponto de vista do setor de energia, temos de traçar uma política ambiental equilibrada, sem abrir mão das nossas vantagens comparativas. O que não pode existir é uma política ambiental para o setor de energia elétrica que tenha como único drive a não emissão de CO2, enquanto nos combustíveis se incentiva o consumo de gasolina e diesel e se abandona o etanol e o biodiesel. Hoje, 88% da matriz elétrica brasileira é de fontes renováveis, enquanto na de combustíveis, 81% são fósseis. Parece até que temos dois governos definindo a política ambiental no setor de energia. Um bastante radical e totalmente verde que não admite nenhuma energia que emita CO2 na geração elétrica, e outro sem nenhuma preocupação ambiental no momento em que define a política de combustíveis e que gosta mesmo é de sujar as mãos com óleo.
Os cenários futuros, apesar de traçados na melhor das boas intenções, são aterrorizantes. Na verdade, tem que se considerar que as mudanças climáticas pelas quais nosso planeta passou são conhecidas e estão modeladas, mas a previsão sobre o que o futuro nos reserva é premonição indesejada.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 15/06/2012
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