A retomada do crescimento da economia brasileira a taxas significativamente maiores do que 1% requer a retomada do crescimento da produtividade do trabalho.
Além de educação fundamental de qualidade, a produtividade depende de diversos outros fatores. Estes quase sempre estão associados à melhoria da tecnologia e à adoção de melhores práticas de gestão, além da adequada provisão de infraestrutura física e institucional.
Novas tecnologias e práticas de gestão geram um processo de destruição criadora. Empregos e profissões são destruídos e criados. Apesar de existirem ganhos líquidos para a sociedade, há perdedores ao longo do processo.
A adoção de colheita mecânica da cana, além dos ganhos ambientais, aumenta a produtividade e reduz o custo da atividade. O mesmo aplica-se a toda a informática em geral. No entanto, secretárias perdem empregos com a informática e cortadores de cana perdem emprego com a adoção da colheita mecanizada.
[su_quote]Apesar de existirem ganhos líquidos para a sociedade, há perdedores ao longo do processo[/su_quote]
Há duas formas de conviver com esses custos do desenvolvimento econômico. Países anglo-saxões e asiáticos em geral tratam esses problemas como sendo individuais. As pessoas e as famílias têm que se preparar para enfrentar os riscos de viver em uma economia de mercado.
As sociedades da Europa continental preferem construir rede pública de seguridade social. São dois modelos possíveis com custos e benefícios. A escolha de um ou outro é política e não técnica.
Vários trabalhos recentes têm produzido evidências indiretas que sugerem que as instituições nos países pobres dificultam e/ou impedem esse processo natural de destruição criadora e, que, portanto, é possível atribuir parte significativa da diferença de produtividade do trabalho entre economias ricas e pobres ao maior enrijecimento destas últimas.
Entre as medidas que enrijecem as economias, temos: maior fechamento da economia ao comércio internacional; ausência de sistema eficiente de defesa da concorrência e de combate às práticas oligopolistas; medidas que dificultam demissão de trabalhadores ou que estimulam a rotatividade em excesso (novas tecnologias requerem treinamento); e até a proibição formal das novas tecnologias, entre tantas outras.
A insegurança inerente ao processo de desenvolvimento gerou muito dos problemas sociais dos difíceis tempos para a classe trabalhadora inglesa na primeira metade do século 19, tão bem retratados nos romances de Charles Dickens.
Os artesãos até tentaram impedir a adoção das novas tecnologias. O movimento foi chamado de ludismo.
No Brasil, vivemos o paradoxo de o ministro da Ciência e Tecnologia ser descendente direto do movimento ludista, tendo liderado a aprovação da lei que proíbe a adoção de bombas de autosserviço nos postos de gasolina. O próximo passo será a proibição das colheitadeiras mecânicas e do computador?
Debate com Marcelo
Em sua coluna na quinta-feira passada, Marcelo Miterhof produziu um capítulo adicional ao debate que travamos sobre a interpretação (segundo a sua leitura) dos ortodoxos de que poupança prévia seria um requisito ao investimento. Marcelo responde a meus argumentos dizendo: “Para mim, esse é um forte sinal da exigência de poupança prévia”. Marcelo não explica os motivos.
Como argumentei em diversas colunas, esse é um ponto pacificado no pensamento econômico desde os anos 1930. Se por acaso Marcelo não consegui entender meus argumentos, ou minha “ginástica”, como adjetivou, remeto-o ao post de José Luis Oreiro de 16 de fevereiro em seu blog, que esclarece a questão.
Na segunda parte de sua resposta, Marcelo defende que na prática inexiste conhecimento positivo em economia e, portanto, o debate e os posicionamentos estão quase sempre a serviços dos interesses.
Marcelo suspeita que a proeminência do pensamento neoclássico no debate público deva-se ao fato de essa linha defender o interesse dos mais ricos.
Na primeira parte de sua resposta, ele está convencido de seu ponto de vista sem dizer o motivo. Na segunda parte, quem pensa diferente dele provavelmente defende interesses dos ricos. Difícil conversar nesses termos.
Fonte: Folha de S. Paulo, 1º/3/2015
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