Enquanto a guerra virtual entre os candidatos ganha força com a ajuda de robôs que retuítam ideias e de empresas que vendem “curtidas”, professores e técnicos em computação de instituições como Unicamp e Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, trabalham para lançar aplicativos que pretendem tornar a eleição mais transparente e a política mais eficiente.
Diego Aranha, professor de Computação da Unicamp, lança nas próximas semanas o app “Você Fiscal”, que rodará em celulares Android e foi integralmente financiado por crowdfunding. Trata-se de um aplicativo que o eleitor, o mesário ou o fiscal de partido poderá usar para fotografar o boletim de urna no dia da eleição e conferir se o resultado final divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para aquela urna confere com ele.
— Quando a votação acaba, a urna gera dois boletins: um eletrônico, que é gravado em pen drive e transmitido ao TSE para a contagem dos votos, e um físico, que é impresso e, por lei, deve ser afixado num local visível na seção eleitoral — explica Aranha. — Com o app, o cidadão poderá fotografar a versão impressa e fazer o upload para nosso sistema. Aí, cerca de 72 horas depois, quando o TSE divulgar o resultado final com base nos dados que recebeu dos pen drives, o sistema fará a comparação, urna por urna. Em teoria, não pode haver nenhuma diferença. Mas, se houver, é porque houve algum problema.
Desde 2012, quando participou de um teste público promovido pelo TSE com urnas e conseguiu descobrir a equação que embaralha os votos, Aranha afirma que o sistema eleitoral brasileiro não é tão seguro quanto o tribunal prega. No teste, ele e sua equipe simularam uma eleição e conseguiram ordenar os votos na ordem em que eles foram registros. Isso, sem tocar na urna. O “Você Fiscal” é sua forma de acompanhar mais de perto o processo eleitoral.
— Há cerca de 50 mil urnas no país. Seria ótimo se tivéssemos fotos dos boletins de urna de todas elas. Assim conseguiríamos acompanhar a contabilização de todos os votos e saber se houve falhas. Mas, fato é que, se constatarmos discrepâncias e não conseguirmos explicar o que houve, iremos ao Ministério Público para pedir mais transparência.
No MIT, o investimento é no app “Promise Tracker”, que deverá ficar pronto bem próximo das eleições deste ano e que consiste num sistema que ajudará o cidadão brasileiro a acompanhar o cumprimento das promessas feitas por aqueles que foram eleitos.
— Temos uma equipe de sete pessoas trabalhando na criação e no desenvolvimento disso. Três falam português — conta ao GLOBO por e-mail o coordenador Rahul Bhargava. — Estamos interessados em entender por que uma democracia consegue mobilizar seu povo para eleger um governante, mas não consegue se mobilizar para cobrar dos eleitos as promessas feitas na campanha. “Promise Tracker” é nossa aposta para engajar os cidadãos no monitoramento daquilo que lhe foi prometido.
Apesar de criado nos Estados Unidos, o app do MIT será em português e deverá ser testado em São Paulo e Minas Gerais, segundo parcerias feitas pelo instituto.
— Nós encontramos grandes parceiros no Brasil. O governo de Minas Gerais é até patrocinador desse projeto. Eles vêm apostando em novas formas de engajar os cidadãos. Em São Paulo, encontramos uma cidade que já pensa muito sobre as promessas eleitorais, com um arcabouço legal que exigiu a criação de diversas formas de monitoramento. Toda a estrutura está lá, pronta para ser usada. Estamos finalizando o app. Ele deve ficar pronto até as eleições.
Bhargava e Aranha sabem, no entanto, que a adesão dos brasileiros a essa nova tecnologia é fundamental para que ela tenha efeito.
— É claro que a tecnologia pode ajudar as pessoas a se envolver com suas comunidades, mas a tecnologia não é a parte mais difícil disso. O processo social é o grande desafio — destaca o coordenador do MIT.
— Vamos fazer uma mobilização com mesários e fiscais de partido — promete Aranha. — Eles podem colaborar muito com isso, além dos próprios eleitores.
Fonte: O Globo.
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