Tati Bernardi, com o humor de sempre, descreve em sua coluna de sexta (20) o péssimo gosto da decoração de muitos de nossos hotéis.
Sou do tipo que não nota. Noto coisas ainda mais básicas. Meu pai é construtor civil, desses que se sentem bem em canteiro de obra, capacete, discutindo com o mestre de obras, debruçado sobre uma planta. Parte dessa praticidade herdei por osmose.
Como palestrante viajo muito pelo país. Espantam-me erros comezinhos que há em hotéis chiques, caros, cuja construção consumiu centenas de milhões de reais.
Os banheiros constituem capítulo à parte. Lembro-me de um hotel enorme, à beira-mar em Vitória (ES). A porta do banheiro ficava à direita com as dobradiças fixadas no batente da esquerda.
A porta abria para dentro do banheiro. Ao entrar havia à direita o vidro do box e logo em frente o tampo da pia, que era desnecessariamente grande para aquele banheiro. De forma que eu, sem uma barriga muito proeminente, só conseguia entrar no banheiro de banda, espremendo-me entre a porta, o box e o tampo.
Uma peça em particular nos banheiros costuma ser fonte de preocupação para os homens, o vaso sanitário. É ecologicamente correto que ele tenha uma caixa de descarga externa. Uso racional da água.
De cada três vasos com caixa de descarga externa que me deparo, em um sou obrigado a urinar me equilibrando na difícil tarefa de não sujar o entorno e simultaneamente, com a outra mão, manter a tampa do vaso levantada.
Nossos construtores, não sei por qual motivo, têm dificuldade de montar tampas de vaso que parem de pé quando a caixa de descarga é externa.
É comuníssimo que as torneiras sejam muito curtas para as pias. Ao lavar as mãos, em vez de a água cair na pia, molha todo o tampo.
Ao entrar no box carregando sabão em barra, aparelho de barba e um xampu, noto uma enorme parede ladrilhada no lado oposto ao do chuveiro. Por que ninguém pensou em colocar uma pequena prateleira nessa parede vazia?
Em geral há uma peça de alumínio na parede lateral junto com o chuveiro. O sabonete cai o tempo todo, não há lugar para deixar o aparelho de barba e o xampu fica no chão mesmo.
Banheiros de hotel, verdadeiro jogo dos sete erros.
Ao olhar tantos erros básicos, imagino outros tantos erros ainda mais graves que obrigaram ao retrabalho em obra recém-concluída. Quanto desperdício!
Como apontou Cláudio de Moura Castro em saborosíssima coluna em “O Estado de S. Paulo” em 15 de março de 2015 intitulada “As Profundezas da Improdutividade”, falta de projeto, falta de planejamento, falta de treino –dos operários e dos engenheiros– falta de rotinas, falta de escola; tantas faltas explicam a baixa produtividade.
Os economistas, brincando de deuses, ficam olhando os países asiáticos e sua indústria. Deveriam olhar mais as escolas e as práticas produtivas, de qualquer setor.
A produtividade é essencialmente um atributo do indivíduo e da capacidade organizacional do time de trabalhadores. Não está no câmbio nem nas máquinas. A evidência empírica mostra que a baixa produtividade é generalizada em todos os setores.
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Morreu domingo passado o professor emérito de filosofia da USP e da Unicamp Oswaldo Porchat Pereira da Silva. Marcou-me muito, saindo da adolescência, seu ensaio “O conflito da filosofia”. Enorme lição de tolerância que tento praticar.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 22/10/2017
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