Empresários, instituições e filantropos que organizaram uma associação para oferecer empréstimos para microempreendedores afetados pela crise do novo coronavírus, a exemplo do que foi feito no Estados Unidos, resolveram ampliar sua área de atuação.
Nas próximas semanas, o grupo responsável pelo Estímulo 2020 começará a levantar recursos para liberar crédito para pequenos empresários do Rio de Janeiro e do Sul do país.
O idealizador do projeto e fundador da GK Venture, Eduardo Mufarej, conta que na primeira fase do programa, em São Paulo, foram captados R$ 30 milhões. Esse dinheiro foi emprestado para 320 empresas de 14 setores, sendo que 55% são da área de varejo e alimentação.
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Em Minas Gerais, o programa contou com o apoio da Federação das Indústrias do estado (FIEMG). As doações, que começaram em R$ 20 milhões, já atingiram a marca dos R$ 100 milhões.
— O Estímulo não é um banco. Montamos uma associação sem fins lucrativos, em que estruturamos a concessão de crédito para as empresas afetadas pela pandemia — explica o idealizador do projeto.
Nesta iniciativa, os empresários doam quantias em dinheiro, assim como oferecem consultorias e cursos. No caso da ajuda financeira, uma vez que o microempresário quite sua dívida, o dinheiro volta para o Estímulo 2020 para que outras empresas possam ser contempladas.
Ainda não existe uma meta definida de arrecadação de doação para a nova fase do programa.
— Quando aprovadas no cadastro, enviamos uma proposta de empréstimo. Se o empresário aceitar, nos envia os documentos e recebe a cédula de crédito bancário (CCB), a formalização do contrato da dívida — explica um dos cofundadores da iniciativa, Azor Barros.
Entre os requisitos, as empresas devem ter tido faturamento entre R$ 360 mil e R$ 2 milhões em 2019, mais de dois anos de funcionamento, boa saúde financeira antes da pandemia e estar em um dos setores mais afetados pela crise. Os valores do empréstimo variam, sendo que o limite é o faturamento mensal pré-crise da empresa em análise.
A taxa de juros anual também é variável. Em São Paulo, foi de 4% e, em Minas, de 7%. O pagamento é em até 15 meses, com três de carência.
Vinicius Soares Bottini é um dos pequenos empreendedores que vai usar o crédito do programa para pagar fornecedores, aluguel e tentar retomar o dia a dia dos negócios.
Liderança de mulheres
Dono de uma pizzaria há seis anos em São Paulo, ele se viu forçado a fechar temporariamente as portas na semana passada, depois de não ter conseguido manter a operação apenas com delivery e sem crédito na mão.
— O governo demorou muito, e o banco é enrolado, fora as taxas altas — disse.
A maior dificuldade do microempresário é exatamente ter acesso ao crédito, segundo a fundadora da Rede Mulher Empreendedora, Ana Fontes. Ela é uma das apoiadoras da iniciativa.
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— Hoje, metade dos pequenos negócios no país são liderados por mulheres, especialmente nos setores de moda, beleza, estética e alimentação, que estão entre os mais afetados — diz Ana, que ressalta: — Para emprestar, é importante se planejar também.
Entre os apoiadores do Estímulo 2020 está o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, que lembra que uma das razões que explicam a dificuldade dos pequenos empreendedores conseguirem crédito é a falta de costume dos bancos lidarem com esse público.
— O modelo do Estímulo é inovador e promissor. Vejo espaço para crescer bem mais — disse Fraga.
O apresentador e empresário Luciano Huck diz que, além da ajuda financeira, os empresários que participam da iniciativa usam suas redes de contatos para conseguir a colaboração de outros doadores. Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração da Península Participações, destaca a importância da agilidade do setor privado no processo de ajuda aos pequenos empreendedores.
Fonte: “O Globo”