Um dos principais problemas dos pequenos empresários é conseguir crédito para investir em seus negócios. Seja por estarem com o nome “sujo”, seja por não terem garantias para o empréstimo tradicional, os micro e pequenos empresários sempre estiveram presos a essa questão: como conseguir crescer, aumentar a produtividade, melhorar as condições de trabalho, sem investimento?
O microcrédito foi criado justamente para atingir esse público empreendedor que não possui as garantias necessárias para conseguir o crédito tradicional. Pessoas que trabalham por conta própria, em casa ou nas ruas, e gostariam de continuar empreendendo em melhores condições.
A Professora associada, chefe de departamento e coordenadora do mestrado da UERJ em Economia, Lucia Helena Salgado, explicou que a ideia rendeu ao seu criador um Prêmio Nobel da Paz. “Esse mecanismo do microcrédito foi uma ideia genial que surgiu de um professor de economia em Bangladesh, que começou por conta própria a emprestar pequenas quantias para trabalhadores de rua, principalmente mulheres. E o resultado foi muito positivo. Não só as pessoas pagavam os pequenos empréstimos, como prosperavam”, contou. Ouça o podcast completo!
No Brasil, o microcrédito começou com o Comunidade Solidária, projeto tocado pela então primeira-dama, Professora Ruth Cardoso.
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Apesar de não ser algo novo, o microcrédito no Brasil não deslanchou. O governo atual tem a oportunidade de avaliar o que não deu certo nas tentativas anteriores e criar um programa em que, desta vez, atenda às necessidades das pessoas que deveriam ser beneficiadas com o programa. Lucia aposta nas exigências como principal entrave para o sucesso dos programas anteriores. “São exigências de condições financeiras, econômicas e, em particular, uma coisa que as pessoas têm como um fantasma na vida delas, que é o nome negativado”, explicou.
O Brasil possui mais de 60 milhões de pessoas inadimplentes, segundo estudo da Serasa Experian, de janeiro de 2020. Não é difícil supor que dentro desses números figurem os cerca de 40 milhões de informais, que poderiam ser beneficiados pelo programa de microcrédito.
Principais diferenças entre o microcrédito e o crédito tradicional
Direcionado para pessoas de baixa renda, o microcrédito se caracteriza por juros muito baixos, quantias menores e prazos mais enxutos. No crédito tradicional, o risco de a pessoa não conseguir pagar o empréstimo vem, principalmente, das altas taxas “Esses empréstimos têm uma taxa de juros mais elevada, algo da ordem de 5 a 6 % ao mês, que é pesado. E são empréstimos de muito longo prazo, para pagar em muito tempo, 2 anos, 4 anos, e isso acaba gerando uma dívida muito elevada que, com juros mês a mês, vai se transformando em uma dívida muito grande”, explicou Lucia.
O microcrédito não só favorece o pequeno empreendedor, como também estimula a economia e, consequentemente, gera recursos.
“O MEI já foi um grande avanço. A ideia de que as pessoas podem ter microempresa individual, começar a contribuir para a previdência, esse é um avanço civilizatório. Seria um outro avanço civilizatório se essas mesmas pessoas passassem a ter acesso ao microcrédito”, pontuou.
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Ao contrário do que vimos sendo noticiado recentemente, o programa de microcrédito não substitui o auxílio emergencial, pois, são programas completamente diferentes e com objetivos distintos.
“O auxílio emergencial, ele tem a cara de uma renda mínima, de uma renda básica, um programa de transferência de renda, e o principal objetivo é tirar as pessoas da beira da miséria, da fome”, definiu. Já o microcrédito seria uma política de crédito, “Tem um efeito sobre uma parcela da população que tá envolvida em atividades, e é muita, mais de 40 milhões de pessoas estão em atividades informais, e isso vai ajudar essas pessoas a comprarem o equipamento, pagarem as suas dívidas, a crescerem os seus negócios”, finalizou.