Esquerda idealiza a economia como um sistema estático, bem arrumado e imune a turbulências. Rejeita com todas as suas forças a poderosa dinâmica do capitalismo liberal
Aprovada a reforma trabalhista possível, a Procuradoria-Geral da República já tratou de tentar melar a coisa, através de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que pretende impugnar vários de seus avanços. Na mesma toada, fiscais e juízes do trabalho prometem dificultar ao máximo a vida de empresas e trabalhadores que aderirem às novas regras.
Nada disso acontece por acaso. Sempre que alguma inovação é tentada no universo da economia e dos mercados em geral, forças retrógradas e altamente ideologizadas não medem esforços para travá-la. Basta olhar o empenho para enquadrar o Uber e outras plataformas baseadas no sistema de sharing economy dentro de um modelo de trabalho tradicional, com assinatura de carteiras, horários fixos etc.
Se a maioria de nós vê a inovação como boa e criadora de valor, há setores da sociedade, treinados numa cultura econômica altamente conservadora, que enxergam quaisquer inovações como vírus que tentam vencer os sistemas imunológicos que eles passaram anos construindo e mantendo.
Quem já debateu com esquerdistas sabe que poucas coisas são mais ofensivas para eles do que a alcunha de “conservador”. Paradoxalmente, entretanto, pelo menos quando o assunto é economia, os autodenominados progressistas são tão ou mais conservadores que o mais radical conservador.
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Avessa aos riscos, a esquerda idealiza a economia como um sistema estático, bem arrumado e imune a turbulências. Rejeita com todas as suas forças a poderosa dinâmica do capitalismo liberal, em que um complexo padrão de organização é obtido a partir de uma aparente falta de planejamento. Prefere modelos planificados, supostamente bem planejados e perfeitamente harmônicos — como se isso fosse possível.
Assim, entre outras políticas, eles defendem o protecionismo, contra a globalização, subsídios e incentivos fiscais para ajudar empresas estabelecidas, favorecem a ajuda governamental contra a falência de bancos e grandes empresas, defendem rígidas regulamentações trabalhistas que protejam os empregos a todo custo, a fixação das taxas de juros e de câmbio pelo governo e, não raro, até mesmo o controle de preços. Não por acaso, inovações que beneficiam os consumidores, diversificam o capital e aumentam a produtividade são vistas pelos “progressistas” como perigosas ameaças.
Como bem descreveu Warren Meyer, os “progressistas” sentem-se tão oprimidos pelo aparente caos do livre mercado como o homem primitivo se sentia em relação ao seu ambiente natural. Assim como este tinha medo de tempestades, terremotos, secas e doenças, os “progressistas” sentem-se desconfortáveis e amedrontados com a ascensão e queda de empresas, recessões, instabilidade do emprego, lucros de uns e perdas de outros.
Da mesma maneira que os homens primitivos inventaram deuses e mitos para tentar trazer ordem ao caos, além de um sentimento de que alguém controlava os eventos que eles não entendiam, os “progressistas” confiam piamente nos governos, na esperança de que alguém possa impor, de cima para baixo, uma ordem estável aos mercados.
Ironicamente, embora os “progressistas” gostem de ser vistos como indivíduos “dinâmicos” e “descolados”, o dinamismo do capitalismo liberal é assustador para eles. Empresas nascem e morrem, empregos vêm e vão, booms econômicos são substituídos por recessões, tudo isso numa velocidade que os faz tremer como os nossos ancestrais diante do trovão. Embora eles não consigam travar completamente a marcha do progresso, o fato é que provocam atrasos e danos econômicos incomensuráveis.
Foto: “O Globo”, 14/09/2017
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