Semana passada o FMI reviu, outra vez para baixo, suas projeções para a economia mundial. Quatro fatos principais se destacam no novo cenário divulgado pela instituição.
Primeiro, a falta de perspectiva de uma retomada mais forte do crescimento global. O Fundo prevê que o PIB mundial suba, em média, apenas 3,5% ao ano em 2016-17, o que traria a média quinquenal para 3,4% ao ano, contra 4,0% no auge da crise internacional (2008-12) e 5,1% no quinquênio pré-crise (2003-07). O Fundo atribui esse fraco desempenho à dificuldade de estimular a demanda agregada, em que pesem políticas monetárias expansionistas no mundo desenvolvido e a forte queda do preço das commodities, em especial o petróleo.
Segundo, enquanto as economias avançadas seguem melhorando seu desempenho, as emergentes estão desacelerando. Considerando os três quinquênios citados acima, as expansões médias anuais do PIB seriam de, respectivamente, 2,8%, 0,5% e 1,8% para os avançados, e 7,6%, 5,6% e 4,5% para os emergentes. O FMI atribui a piora de perspectivas para os emergentes à China, à queda do preço das commodities e aos fundamentos econômicos ruins em alguns desses países.
A desaceleração chinesa, associada à reestruturação da sua economia, reduziu o dinamismo do investimento e da indústria, de um lado, e favoreceu o consumo e os serviços, do outro. Com isso, além de mais baixo, o crescimento chinês agora impacta menos o comércio internacional. A demanda por commodities, em especial, tem subido mais lentamente.
Isso ocorre ao mesmo tempo em que a oferta desses produtos aumenta, com a maturação de grandes investimentos realizados quando os preços estavam muito altos. O impacto de menos demanda e mais oferta sobre os preços tem sido dramático, afetando negativamente os principais exportadores desses produtos.
Esse efeito não tem sido, porém, homogêneo, nem necessariamente proporcional à importância das commodities na economia ou no comércio exterior de cada país. Assim, os países que souberam aproveitar os anos de bonança para fortalecer suas economias, entre outras coisas adotando políticas macroeconômicas disciplinadas, estão sendo capazes de acomodar o choque externo por meio de políticas monetária e fiscal mais expansionistas. É entre os países frágeis que está o maior problema. Nesse grupo destacam-se Venezuela, Brasil e África do Sul.
Terceiro, a chance de o crescimento global ser mais baixo que o agora previsto é maior do que o de essas projeções mostrarem-se pessimistas. Ou seja, não devemos nos surpreender se em abril o Fundo reduzir outra vez a expectativa de crescimento global. A preocupação maior é com os emergentes, refletindo não apenas o risco de a China crescer ainda menos, mas também de quedas adicionais dos preços das commodities e de um agravamento da situação nas economias mais frágeis. Além disso, nos próximos anos grandes empresas de países emergentes terão de reduzir significativamente seu endividamento e muita coisa pode dar errado nesse processo, com a desvalorização das moedas locais, a queda do preço das commodities e a perda de dinamismo dessas economias.
Por fim, o Fundo alerta para a necessidade de os governos reagirem a esse quadro com políticas adequadas. Países com alguma folga fiscal deveriam estimular o investimento; por exemplo, via mais gastos com infraestrutura. Naqueles sem essa folga, o foco deveria recair sobre reformas do lado da oferta. E, naqueles com fundamentos ruins, em corrigir as distorções introduzidas pelas más políticas dos últimos anos.
O Brasil recebeu um atípico destaque na publicação que acompanhou as novas projeções do FMI. Infelizmente, pelas razões erradas: fomos, de longe, o país com maior queda na projeção de expansão no biênio 2016-17. Para o Fundo, o Brasil está andando, e rápido, mas para trás, não apenas em relação ao resto do mundo, mas em termos absolutos.
Ainda que novidade nos documentos do FMI, essas projeções apenas confirmam o que a maioria dos analistas projeta há algum tempo: estamos em meio a uma crise de proporções históricas. Este ano deve repetir 2015 em termos de PIB e inflação, mas ser ainda pior em relação às contas públicas e ao mercado de trabalho. Uma dura herança para 2017.
Não obstante, a publicação do FMI adiciona um elemento importante à análise: o contraste entre o que acontece no Brasil e o que se passa nos demais emergentes confirma que a responsabilidade pela crise brasileira é doméstica. É uma crise feita em casa.
Fonte: “Correio Braziliense”, 27 de janeiro de 2016.
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