Muito mais ambicioso no discurso do que na busca de resultados, o governo federal parece cada vez mais conformado com os números muito ruins do comércio exterior. Exportação é fonte de empregos e fator de segurança econômica e, além disso, seu efeito multiplicador sobre a renda pode ser muito importante. Os economistas do governo sabem disso, mas parecem dar pouca importância ao assunto, exceto quando rende mensagens otimistas. O recado festivo, agora, é sobre o ingresso de investimento direto em volume suficiente para cobrir o buraco nas contas externas. Esse buraco é por enquanto pouco maior que 2% do produto interno bruto (PIB), mas ninguém deve menosprezar seu potencial de crescimento, se o saldo da conta de mercadorias continuar encolhendo. Mas o superávit comercial, cerca de 35% menor que o do ano passado, é assunto secundário para formuladores da política econômica. Já foi um pouco mais importante, quando parecia mais fácil disfarçar a piora das contas externas, ressaltando alguns dados e deixando outros na sombra.
Na edição de abril do boletim Economia Brasileira em Perspectiva, o aumento do valor exportado foi o tema do primeiro gráfico apresentado na seção dedicada ao setor externo. A expansão das vendas foi vinculada à “continuada diversificação de mercados” e à elevação dos preços das commodities. Na edição de agosto, o título do gráfico narra outra história: as “exportações estabilizam (sic), dado o cenário mundial desfavorável”. A queda do saldo comercial de manufaturas é atribuída a fatores externos. Os exemplos citados são a redução da demanda internacional e a valorização da moeda brasileira. A explicação é chinfrim e a presidente Dilma Rousseff parece consciente disso. Durante muito tempo ela atribuiu os infortúnios comerciais do Brasil ao tsunami monetário causado pelos bancos centrais do mundo rico e à consequente depreciação do dólar. Mas o dólar valorizou-se, a balança comercial brasileira continuou em mau estado e ela resolveu mudar um pouco o repertório. Surpresa: a presidente parece haver notado problemas internos, como a deficiência de infraestrutura e o custo absurdamente alto da eletricidade.
Analistas um pouco mais atentos haviam percebido muito antes detalhes como esse: não há como competir quando a logística é tão ruim e a energia elétrica é tão cara. A lista das desvantagens é muito mais longa, mas, de toda forma, o anúncio de planos estruturais já é sinal de um avanço.
Mas o sinal é fraco e o avanço é, por enquanto, uma tímida promessa. A retórica do otimismo continua dominante no boletim de agosto, com 17 páginas dedicadas à expansão dos investimentos públicos e privados e ao plano de logística recém-lançado. Destaca-se o aumento do valor investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas dois detalhes importantes são desprezados: a parcela correspondente a restos a pagar (76,8% até 31 de julho) e o peso dos financiamentos imobiliários (61,2% do valor das ações concluídas do PAC 2).
Apesar de agora reconhecer publicamente a importância das políticas de longo prazo, o governo continua recorrendo principalmente a ações de alcance limitado, como as medidas de estímulo ao consumo e a proteção comercial. Em julho, a arrecadação federal de impostos e contribuições foi 7,4% inferior, descontada a inflação, à de um ano antes. Foi a segunda queda consecutiva nesse tipo de comparação. O mau resultado foi atribuído basicamente à redução de lucro das empresas e às desonerações fiscais concedidas a algumas indústrias. Além disso, receitas extraordinárias em julho do ano passado elevaram a base de comparação. Os últimos resultados parecem finalmente indicar limites para a política de estímulos localizados, pelo menos se o governo mantiver as metas fiscais ainda em vigor. De toda forma, incentivos a setores selecionados podem produzir algum resultado a curto prazo, mas são insuficientes para aumentar o potencial de crescimento. Essa é a questão mais importante, quando se considera o desafio da expansão econômica nos próximos anos.
Em algum momento o governo terá de juntar os pedaços de informações e reconhecer a unidade do problema. Não há como cuidar separadamente das condições do crescimento econômico e dos fatores de competitividade internacional. Não se vai muito longe nas políticas de expansão da demanda interna sem cuidar do lado da oferta – e para isso é preciso pensar na produtividade geral da economia. A alternativa é recorrer ao aumento de importações e aceitar a deterioração do saldo comercial. Tem sido esse o caminho percorrido. Na experiência brasileira, o percurso terminou geralmente em desastre.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 29/08/2012
Enquanto o Brasil não fizer as reformas necessárias, tributária, fiscal, política, e continuar fazendo esses remendos(gambiarras)no popular, nós vamos ficar bem atrás no cenario mundial,sem condições de competir com outros paises em desenvolvimento…….