Repete-se, mais uma vez, o drama da seca no Rio Grande do Sul. Trata-se de um roteiro previsível, manjado e repetitivo, que não tem graça nenhuma, pois mexe diretamente com a vida de todos os gaúchos, especialmente aqueles envolvidos com o agronegócio. Pois essa é mais uma das manifestações do atraso que freia o desenvolvimento definitivo e constrói a triste e persistente tendência de, via de regra, perdermos espaço na economia, sociedade e política nacional nas últimas décadas. Um atraso relativo bastante parecido com a França e a Argentina, a perda de espaço pelo conservadorismo e comodismo, pela falta de inovação aplicada em escala.
Há certa modorra, lentidão, falta de determinação de nossa sociedade, tanto em relação ao vencimento do desafio das estiagens cíclicas quanto ao esforço urgente de maior integração com a economia brasileira e internacional, à busca de soluções equilibradas para questões como a previdência estadual ou em relação à modernização de nossa matriz produtiva rumo a uma economia de perfil tecnológico. Estudos técnicos, iniciativas para transpor cada uma dessas barreiras, são mais do que conhecidos e de excelente qualidade. O que falta para vencermos esses obstáculos? Seria a continuidade da crença de que são realmente intransponíveis e teremos que conviver com eles pelo menos por mais uma geração, de que sempre poderemos encarar os nossos desafios “mañana”?
Acredito muito no futuro de nosso Estado, temos passado por experiências positivas de gestão nos últimos anos, iniciando com sucesso processos estruturantes, e a perspectiva do ciclo que se inicia, ao focar na concertação para executar o que é prioritário e na integração econômica com o país e o mundo, atende a uma agenda estrategicamente exata para o momento do Rio Grande.
Mas o vencimento dos obstáculos “intransponíveis” em nosso Estado depende de algo que vai muito além da iniciativa e capacidade de governos, que é o direcionamento desse cansaço com tanto conservadorismo, isolamento cultural e econômico para mobilização e apoio a ações construtivas e em escala. Com senso de urgência, com mais ação e menos lamentação. Envolvimento real da sociedade e de entidades representativas. Viabilização de recursos para resolvê-los.
Não podemos admitir que venhamos a ler, nesta mesma Zero Hora, em três, 10 ou 15 anos, as mesmas manchetes sobre os mesmos problemas. A estiagem é um deles. O obstáculo – não intransponível – a ser vencido é a acomodação da sociedade gaúcha, que precisa acordar para a realidade.
Fonte: Zero Hora, 12/01/2011
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