Por “reescrita”, é possível entender ao menos duas coisas: (1) reinterpretada, pois a maioria dos historiadores quando não faz uma abordagem do tipo ufanista, faz uma do tipo marxista. (2) Mas também se pode entender uma abordagem distorcedora e falsificadora dos fatos históricos, coisa mais grave ainda.
Alguns poucos jovens historiadores, como Eduardo Bueno e Leandro Narloch, voltarem-se para a tarefa de reescrever a História. Em sua obra: “Guia politicamente incorreto da História do Brasil” (Leya, 2011) Narloch reescreve alguns capítulos numa visão liberal e fiel aos autênticos fatos.
Lendo esses e outros historiadores ficamos sabendo algumas coisas bastante interessantes, como, por exemplo, que a independência do Brasil, que até então teria sido feita em 7 de setembro de 1822 às margens do Ypiranga (SP) – conforme todos os livros de História – na realidade, foi feita nos últimos dias de agosto no Paço Imperial no Rio de Janeiro.
Foi descoberto um documento oficial em que D.Pedro I declara a independência.
Quanto ao famoso brado varonil “Independência ou Morte!”, este não passou de um gesto simbólico para acalmar paulistas inquietos.
Não houve nenhuma falsificação de documentos, nem mesmo ocultamento de fatos: apenas a mencionada declaração assinada por D.Pedro I permaneceu muitos anos desconhecida, ao passo que o brado do Ypiranga contou com diversas testemunhas oculares.
Menos grave! Coisas como essa não são infrequentes na labuta dos pesquisadores de fontes primárias. Mais grave é o ocultamento intencional ou a distorção proposital dos fatos históricos.
Recebi recentemente de um amigo internauta um e-mail contendo coisas estarrecedoras sobre um importante episódio da História do Brasil. O autor do texto é anônimo, coisa que concorre para aumentar a suspeita de que meu amigo – tendo desconhecimento ou não suspeitando de uma possível falsificação – passou adiante um fake, coisa infelizmente muito freqüente na comunicação via Internet.
No entanto, o autor anônimo revela conhecimento da história ou ao menos ótimo conhecimento do episódio narrado por ele. Não só apresenta fatos dignos de confiança como também riqueza de detalhes na sua narrativa.
Outras coisas narradas são tão insólitas e estarrecedoras que geram inevitavelmente a suspeita de que se trata de uma falsificação muito bem elaborada.
No entanto, não podendo me certificar disso nem do contrário, faço como os antigos céticos gregos: suspendo meu juízo por não dispor de nenhuma boa razão a favor ou contra a fidedignidade da narrativa, reproduzida abaixo em trecho:
“Quem morreu no lugar dele foi um ladrão chamado Isidro Gouveia. A mentira que criou o feriado de 21 de abril é: Tiradentes foi sentenciado à morte e foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, no local chamado Campo da Lampadosa, que hoje é conhecido como a Praça Tiradentes.
Com a Proclamação da República, precisava ser criada uma nova identidade nacional. Pensou-se em eternizar Marechal Deodoro, mas o escolhido foi Tiradentes. Ele era de Minas Gerais, estado que tinha na época a maior força republicana e era um pólo comercial muito forte. Jogaram ao povo uma imagem de Tiradentes parecida com a de Cristo e era o que bastava: um ‘Cristo da Multidão’.”
Que dizer diante disso? É muito duro e decepcionante ver um grande herói nacional transformado em engenhosa farsa.
Supondo que seja uma falsificação, só podemos lamentar que o autor da mesma tenha assumido ares de historiador, quando na realidade é um excelente ficcionista do gênero romance histórico – criado por Sir Walter Scott no século XIX – pois sua estória (story) se non è vera, è molto ben’ trovata.
Mas, supondo que seja digno de confiança como relato histórico, só podemos aplaudir essas grandes desmitificação e desmistificação. E temos mais um exemplo que reforça nossa suspeita de que a História do Brasil precisa urgentemente ser toda reescrita.
Como na política, estamos fartos de ser engabelados por habilidosos homens na arte da patifaria!
Até que ponto a Historia oficial de um país revela sua realidade? Sob qualquer ângulo que seja narrada, depende da ótica do narrador cujo papel é criar uma identidade comum aos nacionais. E nenhum nacional deseja olhar para trás e constatar um passado que lhe tire o orgulho patriótico.
Talvez os romances recriem a Historia de um povo de forma muito mais real, ainda que fragmentada. Neste caso, é preferível conhecer a identidade de um país através dos seus romancistas.
Mas felizmente a nossa presidanta criou a Comissão da Verdade! Agora tudo será esclarecido em nossa história