Participei de reunião de grupo composto por importantes formuladores e executores de política externa, capitaneados por Henri Kissinger, recentemente, em Nova York. No encontro, foram examinados os principais aspectos da conjuntura internacional, a mudança do eixo político e econômico do Atlântico para o Pacífico, a emergência da China, o conflito Israel-Palestina, o Irã e as consequências dos vazamentos do WikiLeaks. A mim foi proposto discutir se o Brasil poderia ou não no processo decisório mundial ocupar um lugar na mesa principal.
A simples pergunta implica o reconhecimento do peso político que o Brasil passou a gozar nos últimos anos, mas também indica que o país tem de justificar sua plena participação nos diretórios que vêm se formando para responder às novas realidades do cenário global.
O Brasil acredita que já deveria estar na mesa principal, mas sem que venham cobrar posições. Dentro de uma visão de médio e longo prazo, respondi positivamente à indagação que me foi colocada e procurei mostrar por que o Brasil hoje pode assumir essa posição de destaque. Alinhei também as credenciais de natureza política e econômica para estarmos presentes nos principais centros decisórios.
Dada sua índole pacífica, o Brasil não representa nenhuma ameaça para os países da região. Embora mantendo fronteira com dez vizinhos, as disputas territoriais foram negociadas, e há 145 anos o país não se envolve em guerra regional. Ao contrário de China, Índia e Rússia, o Brasil não é uma potência nuclear. A crescente presença externa do Brasil ocorre, sobretudo, pela habilidade de obter êxitos pelos valores que defende, por sua cultura, pela ação moderada e moderadora, além da atitude positiva para construir consensos, em outras palavras pelo seu soft power.
O Brasil, interlocutor indispensável nos temas globais como comércio, meio ambiente/mudança de clima, direitos humanos, energia (renovável e, agora com o pré-sal, petróleo) e água. Membro fundador do Gatt, das Nações Unidas e dos organismos criados em Bretton Woods, depois da guerra (Banco Mundial e Fundo Monetário), desempenha um papel ativo e construtivo nesses organismos. Participa do G7/8, como convidado, e integra o G-20 financeiro com forte presença nas discussões sobre governança global.
Candidato declarado a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e com crescente participação em questões regionais fora da América Latina, o Brasil tem procurado se fazer ouvir no processo de paz para solucionar o conflito Israel-Palestina, na questão do programa nuclear do Irã e na ajuda aos países da África. Por iniciativa brasileira, foram criados fóruns para o diálogo entre a América do Sul e o Oriente Médio e entre nossa região e a Ásia. A institucionalização do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) tornou mais forte a voz do Brasil no contexto internacional.
A internacionalização da economia e das empresas brasileiras, sobretudo nos EUA, na Europa e na América Latina, é um reflexo do crescimento e da sofisticação do mercado brasileiro. O crescimento sustentado da economia coloca o Brasil como a oitava do mundo e uma potência agrícola mundial. A assistência técnica e financeira que o Brasil oferece aos países em desenvolvimento da América Latina e África coloca hoje o país entre os maiores doadores internacionais.
Na reunião em Nova York, houve reconhecimento da solidez das credenciais do Brasil. Pelas reações dos presentes, ficou claro que a comunidade internacional já está observando atentamente os movimentos do governo brasileiro. A caminhada vai ser longa ainda, e o atual e os futuros governos terão um grande desafio: fazer com que o país assuma as responsabilidades impostas pela participação nos diretórios que tomam as decisões mais importantes e exerça uma liderança clara e propositiva tanto no contexto regional como nos temas globais. A exemplo da China, o Brasil, baseado no respeito mútuo e na cooperação, terá também de definir um relacionamento maduro com os EUA para ser chamado a sentar-se à mesa principal.
Fonte: O Globo, 08/02/2011
O pleito brasileiro é vexatório, porquanto mira o próprio umbigo, por sinal, alegórico. O sindicalismo não é afeto diplomático. Nem pintam mais no mundo, reduzidos desde 45.