O mercado mobile é apontado como o setor mais promissor da área de Tecnologia da Informação (TI). A União Internacional de Telecomunicações (UIT) comunicou, no último dia 28, que o número de assinaturas de telefonia celular alcançará a marca de 7 bilhões até o fim de 2013. Isso significa que haverá um telefone móvel para cada habitante do mundo. Ainda segundo a pesquisa da UIT, a penetração da telefonia móvel será superior a 96% em nível mundial. Até 2015, o segmento mobile será responsável por cerca de 50% do faturamento mundial no setor de empreendimento digital.
Mais alcance das redes de banda larga móvel, a chegada da internet 3G, do Wi-Fi, e o maior acesso aos aparelhos celulares são alguns dos fatores que impulsionam o crescimento do setor de tecnologia móvel, que tem o desenvolvimento de aplicativos para smartphones e tablets como o seu grande filão.
De acordo com o “Relatório Mobilize de Inteligência de Mercado”, divulgado em junho de 2012 pela desenvolvedora de aplicativos digitais Aorta, empresa do grupo .Mobi, o número de downloads de aplicativos cresceu 230%, de 9 bilhões para 30 bilhões, só em 2011. Os homens são os maiores consumidores de apps. Outra amostragem, desta vez organizada pelas empresas Hi-Mídia e M.Sense, revelou que 72% dos entrevistados que possuíam smartphones ou tablets eram homens.
E foi nesse universo predominantemente masculino que a empresária Adriana Qaddomi consolidou a marca Uplay Mobile como uma das principais provedoras de conteúdos para celular (aplicativos, jogos, vídeos, imagens, sons, SMS, MMS e mais) do Brasil. Na semana que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Instituto Millenium conversou com a diretora de operações da Uplay, empresa que acaba de fechar uma parceria com o canal “Porta dos Fundos” para a distribuição de conteúdos humorísticos para diversas operadoras. Nessa entrevista, Adriana faz projeções para o mercado, fala sobre a formação profissional e sobre os desafios dos empreendimentos digitais.
Instituto Millenium: Você poderia falar um pouco da sua experiência como mulher à frente de uma empresa do setor de tecnologia, historicamente dominado por homens?
Adriana Qaddomi: Primeiramente, é importante gostar do que se faz. Isso facilita e muito os percalços que enfrentamos à frente de qualquer empresa, seja ela do setor de tecnologia ou não. É preciso ter muito jogo de cintura para lidar com os colaboradores, que no caso da Uplay, não são diferentes: na sua maioria são homens. O ponto positivo é que são pessoas jovens e isso facilita bastante a comunicação. Gosto de dizer que as mulheres em geral têm uma maneira única de realizar várias tarefas “multi-tasking” e, além disso, são exímias diplomatas. Essas são duas habilidades que uso bastante.
Indo um pouco além da sua pergunta, queria dizer que as empresas de tecnologia não são compostas apenas pelos famosos “geeks ou nerds”. Elas precisam de pessoas com experiência em vendas e marketing, que possam levar e vender uma ideia para o mercado. É aí que vejo a participação da mulher em um mercado, como vocês bem colocaram, historicamente ainda dominado por homens. E não vamos e nem podemos deixar de mencionar que temos mulheres no comando de grandes empresas do setor, como Ginni Rometty, CEO da IBM, Meg Whitman, da Hewlett-Packard, Sheryl Sandberg, do Facebook, e Safra Catz, da Oracle, só pra citar algumas. Isso diz alguma coisa!
Intituto Millenium: Qual a participação da mulher no mercado móbile?
Adriana: Essa informação eu não tenho e acredito não haver alguma pesquisa sobre a mulher no mercado móbile. O que posso dizer é que hoje, em relação há 10 anos, as mulheres estão mais presentes e na sua maioria em cargos de chefia. Nas operadoras de Telecom, por exemplo, não é difícil encontrar nas diretorias de VAS (Value Added Service/Serviços de Valor Agregado) uma mulher. Portanto, creio que estamos bem representadas e bem posicionadas nesse mercado.
Instituto Millenium: Qual o perfil das empresas brasileiras de produção de conteúdos para celular?
Adriana: Por ser um mercado novo, as empresas deste setor também são jovens, com no máximo 15 anos. Elas criam, licenciam ou adquirem conteúdos, incluindo editorial e multimídia, para distribuição por meio de aparelhos celulares. Eles podem ser textuais, de vídeo, imagem, áudio ou jogos. Os provedores podem ser empresas que tanto criam conteúdo, tais como desenvolvedoras de jogos e produtoras de vídeo, quanto empresas que agregam várias fontes de conteúdo (fornecida por provedores de terceiros), também conhecidas como agregadores de conteúdos. Tudo isso para ser distribuído pelas plataformas e redes das operadoras de celulares.
Nossa experiência abrange uma ampla gama de especialidades, além dos citados acima. A Uplay também sempre busca novas oportunidades e inovações. Nosso objetivo é dar o exemplo, desenvolvendo produtos tecnológicos para distribuir nossos conteúdos e de nossos parceiros.
Instituto Millenium: O que podemos esperar para o futuro do mercado mobile no Brasil?
Adriana: Com os smartphones, houve uma mudança de comportamento dos usuários de celulares. Cada vez mais o perfil se torna móvel, deixando o notebook e o desktop em casa. É muito mais fácil e cômodo checar seus e-mails, Facebook, Twitter e acessar sites de pesquisa, no celular, tudo está ali, na sua mão.
Aproveitando os dados apresentados essa semana (25 fevereiro) em Barcelona, na maior feira do meio, a Mobile World Congress, a Telefônica espera um crescimento de 30 pontos percentuais na penetração de smartphones para os próximos três anos na América Latina, de 13% para 43%, o que torna a região com maior crescimento no mundo. Portanto, o mercado mobile só tende a crescer. Este é o momento propício para as empresas aproveitarem a oportunidade para lucrar com esse mercado.
Instituto Millenium: Comparando com os países desenvolvidos como está o setor de tecnologia nacional?
Adriana: O setor de tecnologia deve dobrar sua relevância na economia brasileira nos próximos anos, ainda mais com a proximidade de eventos mundiais como os jogos da Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Isso certamente trará desenvolvimento tecnológico e estrutural ao país. Mas ainda ficaremos atrás dos países-referência no ramo, como a Índia e os EUA.
Instituto Millenium: Qual o principal desafio dos empreendedores do ramo: burocracia, excesso de impostos ou falta de incentivos?
Adriana: Com um consumidor cada vez mais exigente e com redes cada vez mais velozes, nosso principal desafio, nos próximos anos, está em oferecer produtos e conteúdos compatíveis com essas demandas. Além disso, como o mercado está em constante evolução, o setor também sofre com capacitação, retenção e reciclagem de seus profissionais. Para os empreendedores, o desafio vai além da falta de mão de obra. A alta carga tributária em serviços e equipamentos e o excesso de impostos dificultam o desenvolvimento do setor no Brasil.
Instituto Millenium: Temos um déficit de formação de profissionais que atuem no segmento?
Adriana: O setor de tecnologia é um dos mais promissores no Brasil e, ao mesmo tempo, um dos que mais se ressentem da falta de mão de obra qualificada. Hoje, para determinados projetos na Uplay, buscamos mão de obra argentina e americana. O mais incrível é que o custo benefício é muito menor, se comparado à contratação de uma empresa especializada em projetos específicos aqui no Brasil. Isso tudo se deve, de fato, à carência de profissionais qualificados.
No Comment! Be the first one.