A inflação mundial está subindo. Os bancos centrais dos países emergentes já dispararam ciclos de elevação em suas taxas de juros. Brasil e China, por exemplo, enfrentam importante deterioração das expectativas inflacionárias. Por outro lado, de olho nas altas taxas de desemprego que ainda persistem, as autoridades monetárias das economias avançadas permanecem complacentes ante a perspectiva de elevação dos preços. O banco central americano, Federal Reserve, por exemplo, mantém sua política de crédito fácil e dinheiro barato para estimular a produção e o emprego, apesar dos sinais de uma recuperação cíclica nos Estados Unidos.
As bolsas de valores registraram essas mudanças de expectativas nos últimos três meses. As previsões de desaceleração dos emergentes, enquanto melhoravam as perspectivas da economia americana, explicam simultaneamente uma avalanche de vendas de ações e quedas de preços na bolsa brasileira, uma repatriação parcial de fundos para os mercados acionários nos EUA, bem como a continuidade de sua trajetória de alta em meio à correção das bolsas emergentes.
A inflação que vem por aí é uma variante muito resistente aos tratamentos convencionais. Trata-se do cost-push, uma pressão de custos que começa com a elevação dos preços das commodities e das matérias-primas, transmite-se aos salários e vai subindo por toda a cadeia produtiva, empurrando custos, derrubando margens de lucro e forçando elevações de preços. E, o que é pior, sem muita consideração pelas condições de demanda na economia.
O extraordinário crescimento sincronizado da economia global no período 2003-2007 preparou essa bomba-relógio. Dezenas de milhões de consumidores encomendando automóveis em escala planetária; a indústria automobilística repassando a ordem à siderurgia e à petroquímica; e estas indústrias finalmente transmitindo as pressões de demanda às matérias-primas básicas: toneladas de minério de ferro e milhões de barris de petróleo em águas profundas.
Enfrentávamos a primeira onda do cost-push quando estouraram as bolhas dos imóveis e das bolsas em 2007-2008. O credit crunch e a Grande Recessão de 2008-2009 mantiveram suspensa a dinâmica perversa do cost-push. Mas as políticas contracíclicas acionadas ao mesmo tempo em todo o mundo em 2009- 2010 ameaçam reativar o processo inflacionário mundial em 2011-2012. Vem aí a segunda onda.
Fonte: O Globo, 14/02/2011
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