Sete de setembro, não há quem o ignore, é o dia em que se celebra o aniversário da Independência do Brasil; desde que eu me conheço por gente, os festejos relativos à efeméride constam de uma cerimônia militar e outra civil, de que participam setores estudantis. O Dia da Pátria, como também se denomina, caracterizou-se este ano por algumas novidades, a primeira das quais importava em quebrar a unidade tradicional, deixando visíveis e induvidosas as motivações e objetivos de certo número de manifestantes. Eu vi com meus olhos o que a TV divulgou; alguém a subir na haste em que fora colocada a bandeira brasileira e arrancá-la; jogada ao chão, destruí-la pelo fogo e em seu lugar pendurar um pano preto. Um pedaço de pano preto substituiu o auriverde pendão da nossa terra, que a brisa do Brasil beija e balança, mudança tanto mais afrontosa e extremada quando se não tem lembrança de precedente igual ou semelhante. Não seria difícil antever que o gesto não se esgotaria em excessos de mau gosto, mas o resultado de uma espécie de febre maligna que leva ao desvario cívico, desprovido de toda racionalidade, dificilmente deixaria de reproduzir-se senão reproduzir-se agravado.
Com as devidas vênias, a ocorrência, pública e ostensiva, transpondo os limites do razoável, deixou à mostra a gravidade das paixões para não dizer a ferocidade dos sentimentos armazenados pelos autores do ato macabro para exprobrar a bandeira nacional, o símbolo por excelência o mais representativo da nacionalidade. O fato não é de gesto mais ou menos profano ou mais ou menos hostil que possa abrigar-se em segmentos radicais ou infestados de padrões incompatíveis com o convívio pacífico dos conflitos habituais nas sociedades democráticas. Sua agressividade delira dos limites modelados no padrão do mundo ocidental. Sua periculosidade parece inerente à sua prática e nada autoriza a supor que o ato em causa sirva de termo da vesânia. Uma vez iniciado, quem poderá assegurar venha a conter-se nos limites quase inatingíveis e incompatíveis com o que a múltipla experiência ocidental modelou ao longo do tempo e das maiores vicissitudes?
Não faz muito tempo, desencadeou-se um movimento resumido em uma legenda, “na lei ou na marra”; sua exasperação veio a gerar movimento contrário e, como tantas vezes acontece, o litígio verbal se converteu em conflito real. Os frutos foram 20 anos de depravação institucional em toda a linha. Os fatos mais recentes, a meu juízo, indicam sinais perigosos. O caso da bandeira do Brasil é mais do que expressivo. Começou com ele. Como terminará, ninguém sabe. O pano preto que ocupou o lugar da bandeira do Brasil faz lembrar a bandeira preta, que nas praias de banho advertia que o mar não está para peixe e não está seguro nem para molhar a ponta do pé.
Se a violência com que aparece ficasse estacionada seria insuportável, mas, é difícil supor que ela deixe de expandir-se e a experiência tem mostrado que a sucessão desses abusos aqui, ali, acolá, geram reações várias, por vezes imperiosas, por vezes exageradas e os arrependimentos posteriores e, vindos a destempo, podem ser inócuos.
A violência foi o instrumento adotado nos países que aderiram ao sinistro totalitarismo do século passado, o fascista, o soviético, o nazista, e a violência em exame de repente, nua e crua, alcançou nível sem precedente e isso não é bom pela natureza e efeito que podem assumir.
Como de costume, o espaço do jornal termina antes do assunto, razão por que outro aspecto grave e perigoso, o aspecto paramilitar com que o bando se apresentou logo em sua aparição, deixa de ser apreciado quando mereceria alguma reflexão.
Fonte: Zero Hora, 16/09/2013
Parei de escrever, é muita democracia…