São Paulo – que hoje completa seu 458º aniversário – tem uma qualidade única entre as cidades brasileiras. Por seu porte e pela complexidade de seus problemas, ela tem a capacidade de dar dimensão nacional aos políticos que a governam.
Ações como a tentativa de livrar a região central da cidade, conhecida como “Cracolândia”, dos traficantes de drogas (em benefício dos cidadãos comuns e dos próprios dependentes químicos) ganham em São Paulo uma dimensão que não teriam em nenhuma outra parte.
Talvez por essa razão, a cidade será, no segundo semestre deste ano, campo de provas para as alianças que valerão para a sucessão de Dilma Rousseff, em 2014. A grande novidade, como se sabe, é a entrada em cena de uma nova e importante peça no jogo político.
Trata-se do PSD, o partido criado pelo prefeito Gilberto Kassab e que reuniu descontentes de quase todas as legendas expressivas do país, menos o PT. Kassab prefere dizer que, ao invés de descontentamento com as legendas de origem, os políticos que o seguiram naquilo que, a princípio, parecia uma aventura partidária, têm mesmo é afinidade com a proposta de uma legenda de centro.
Uma agremiação que, de acordo com o prefeito, nasceu independente e assim se manterá até 2014. Pode ser. O que muita gente de fora (e até mesmo alguns políticos de dentro) do PSD afirmam, no entanto, é que essa independência tem limites e que deve significar uma aproximação cada vez maior do PT – e o consequente afastamento das posições do PSDB e do DEM.
Kassab desconversa sobre o assunto. Mas é evidente que ele dispensa ao PT e ao PSDB tratamentos completamente distintos. Com pesos e medidas diferentes no que diz respeito, por exemplo, ao papel de seu partido nas alianças possíveis para as eleições municipais deste ano.
O PSDB, segundo ele, seria muito bem recebido numa chapa encabeçada por Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo e, de acordo com a opinião do prefeito, candidato natural de seu partido à sua sucessão.
Já o PT, que terá o ex-ministro da Educação Fernando Haddad na cabeça da chapa, pode ter, sim, um político do PSD como segundo na chapa. O nome, nesse caso, não seria o de Afif mas de um outro quadro da agremiação recém-criada. Um nome jovem e com poucas arestas.
Quem? Kassab não revela sua preferência e diz que as conversas ainda não tiveram início formalmente. Claro que tiveram. Não apenas tiveram como já avançaram bastante.
Seja como for, esse desenho tem uma importância que vai muito além dos limites do município de São Paulo. O fortalecimento do PSD como parceiro de aliança do PT pode, no final das contas, conter o apetite do PMDB por mais espaço no governo federal.
Mas, para isso, a chapa de Haddad com o apoio do PSD precisa, antes, ganhar as eleições municipais. Na maioria das capitais brasileiras, as eleições parecem resolvidas em torno de candidatos que apoiam não apenas o governo federal como, também, os respectivos governos estaduais.
É o caso do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, de Belo Horizonte, com Márcio Lacerda, e de muitas outras. Em São Paulo, não. Na política como no dia a dia, os problemas da maior cidade do país sempre superam os das demais metrópoles.
Mas as soluções, por sua vez, também costumam fazer barulho. Muito barulho.
Fonte: Brasil Econômico, 25/01/2012
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