Não foi possível, até o momento, compreender as razões que levaram o Wikeleaks – site famoso pela divulgação de segredos que todos já conhecem – a interromper a publicação dos documentos sigilosos, obtidos sabe-se lá como.
Refiro-me, naturalmente, às verdadeiras razões dessa decisão, e não àquelas que o chefe da farra, o australiano Julian Assange, citou para justificá-la. Segundo ele, o bloqueio financeiro imposto por operadoras de cartão de crédito e bancos impediu que os recursos dos doadores chegassem à conta da empresa.
No comunicado oficial que pode ser lido no próprio site, o Bank of America, Visa, MasterCard, PayPal e Western Union são citados nominalmente como os responsáveis pelo fim das atividades. Tudo bem. Vamos considerar tais argumentos verdadeiros e tentar aceitar que tudo (inclusive o boicote promovido por essas empresas) aconteceu exatamente como Assange e seus amigos dizem ter acontecido.
Ou seja: que pela decisão corajosa de publicar verdades inconvenientes contra os governos mais poderosos do mundo corporações igualmente poderosas resolveram impedir que os recursos dos doadores continuassem a pingar para financiar sua cruzada em prol da transparência.
Convenhamos! É difícil acreditar em uma sílaba dessas palavras. Esse anúncio – afirmo com base na mesma liberdade de expressão que Assange reivindica para seu trabalho – parece a mais simples e pura chantagem.
É a velha história da pimenta que vira refresco em olho alheio. A transparência que o Wikileaks diz defender não vale para a própria organização. Qual é, afinal de contas, o faturamento real do Wikileaks? De quanto Assange necessita para manter viva sua cruzada? De onde vem, de verdade, o dinheiro que o financia? Quem são os financiadores? Onde vivem? Qual é o valor médio das doações?
Oferecer respostas claras a essas questões é tão essencial para a liberdade de expressão quanto o direito que Assange reivindica de publicar as informações que obtém. No mundo civilizado, os meios de comunicação sobrevivem da receita publicitária e/ou dos recursos gerados pela circulação.
Quanto mais clara for tal relação, maior será a confiança depositada pelo leitor em determinado veículo. Ainda que, eventualmente e respeitadas as regras do bom jornalismo, os jornais, as emissoras e os sites mais confiáveis publiquem informações que desagradem a governos ou a corporações poderosas.
O que chama atenção no Wikileaks é a insistência em publicar documentos secretos a respeito de governos democráticos e jamais desnudar os ditadores.
Da mesma forma que o governo americano dispõe de papéis sobre a prisão de Guantánamo e as guerras no Iraque e no Afeganistão (sempre disponíveis no site), ele também guarda informações sobre o hábito de ditadores como Muamar Kadafi, morto dias antes de o site revelar seus problemas financeiros. Ou a respeito de outros temas mais interessantes do que, por exemplo, a revelação de que o primeiro time de diplomatas do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva gostava mais da Venezuela e do Irã do que dos EUA. Quando o tema foi publicado pelo Wikileaks, o mundo inteiro já sabia disso. É só um exemplo da inutilidade de quase todos os segredos barulhentos publicados pelo site.
Fonte: Brasil Econômico, 26/10/2011
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